Pais, Filhos e Netos

Segurança: uma sobrecarga para a família

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Em tempos difíceis, onde a violência urbana nos oprime e tira nossa liberdade, as famílias vivem preocupadas e em constante tensão.

Na medida em que a violência aumenta, os mecanismos de defesa se sofisticam na tentativa de proteção. As residências estão cada vez mais cheias de grades ou protegidas pelas refinadas tecnologias de segurança dos condomínios. Os carros precisam de vidros escurecidos ou blindados e a demanda por celulares aumentou.

Decididamente os hábitos das pessoas mudaram. Uma boa rede de comunicação na família é fundamental, por isso quase todos passaram a portar celulares para que possam ser localizados com rapidez, e tranqüilizar os demais. Alguns idosos, que se davam ao luxo de ser completamente avessos às novas tecnologias, se renderam aos apelos familiares e passaram a usar, sem muita intimidade, o aparelho.

A forma como se carrega a mochila ou a bolsa, como se entra no prédio ou no próprio carro, como se guarda os pertences no veículo, como se age num banco, como se escolhe um táxi, como se anda na rua, como se apanha um filho na escola, e por aí afora, sofreu mudanças. Há advertências para tudo. Recomendações das autoridades policiais, que os pais procuram aprender e “doutrinar” os familiares a adotar, com aplicação, no seu dia-a-dia.

Algo caótico está acontecendo. Já estamos aprendendo a ser mais vigilantes em relação às regras de segurança do que às voltadas para os comportamentos morais, éticos e de educação.

Mas, realmente, não dá para relaxar por enquanto. Embora o risco ronde todas as idades, as crianças e os mais velhos ainda são os mais vulneráveis. As crianças e jovens, pela inocência e exposição, e, ainda,  pela fragilidade física e psíquica, comum também aos mais velhos, deixam os pais (ou os filhos) especialmente preocupados.

Mas o perigo não está só da porta para fora. Pessoas mais velhas, ativas, sábias e independentes são acordadas de madrugada com vozes desesperadas, pedindo ajuda, como se fossem as vozes de seus filhos ou parentes seqüestrados. Poucas vezes o traquejo de vida e a experiência se sobrepõem à emoção e ao terror desse momento.

Claro,  há também um “pacote” de recomendações das autoridades para prevenir e lidar com este tipo de golpe: não gravar na agenda dos celulares a referência de parentesco do tipo “Mãe”, “casa”, “tia”, e assim por diante; cuidar para não fornecer informações na hora do “trote”; engabelar o golpista enquanto checa por outro telefone se a pessoa está bem.

Ou seja, para sobrevivermos, cada vez mais aceitamos que o poder público nos “delegue” o papel de cuidar da segurança, apesar de todo aparato e máquina sustentado pelos impostos pagos. Não podemos nem devemos relaxar, embora saibamos que os presos não ficam presos ou que nos ameaçam de dentro da própria prisão.

Também sabemos que a miséria e a falta de oportunidades se tornam caminhos para o crime, mas nos limitamos a manifestar nossa irritação sem compromisso entre amigos.

Enquanto nossa atenção se volta inteiramente para a proteção pessoal ou familiar, deixamos de agir coletivamente em ações voltadas não só para a paz mas, sobretudo, para responsabilizar o poder público por negligência ou ineficiência. E esta não deve ser uma questão do interesse das vítimas ocasionais, porque todos somos vítimas em potencial.

Se fôssemos mais efetivos nesse processo e nessa participação coletiva, através de associações, estaríamos protegendo melhor nossos filhos e pais.



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