Quem convive com um mal humorado crônico sabe bem diferenciar um estado temporário e passageiro de irritação e estresse, provocado por pressões ocasionais, de um quadro de mau humor contínuo, persistente e duradouro. A hostilidade frequente gera prejuízos e sofrimento não só para os que estão ao redor mas também para quem promove tanta desarmonia, só aumentando sua infelicidade.
Segundo o psiquiatra e psicanalista José Carlos Zanin, a irritabilidade considerada enfermidade “se caracteriza por uma anormal emotividade e por demasiada duração e intensidade do estado afetivo de mau humor. As manifestações vão desde o “humor caprichoso” com descontentamento irascível até a irritação franca e hostil, acompanhada de atitudes de desconfiança, raiva e certa agressividade”.
Como todo mundo tem uma justificativa ou explicação para os próprios arroubos emocionais o mesmo acontece com aquele que está sempre destemperado, perdendo a paciência por um quase nada, confrontando todos, fazendo tempestades em copos d’água e ressaltando o lado negativo de tudo. “A alta frequência de estados emocionais intensos - traço que marca a personalidade de alguns indivíduos - já é a expressão de perturbadores conflitos internos”, esclarece o médico.
Zanin alerta não só para os sinais de depressão por trás do mau humor como também para outro aspecto importante: o desgosto da pessoa com ela própria, a baixa autoestima, o amor-próprio prejudicado. Tudo muito camuflado numa postura que muitas vezes pode se confundir com prepotência e arrogância.
Dessa forma, acrescenta Zanin, a propensão à irritação e a reações agressivas sempre desproporcionais aos problemas se devem mais a conflitos internos, que deixam a pessoa refém de suas emoções conturbadas, do que a motivos externos alegados como desencadeadores.
É possível tratar?
Agressividade, raiva, rancor, intolerância e estados internos depressivos (sentimentos ou fantasias de perda, sentimentos de culpa, de revolta) são conflitos e distúrbios que precisam ser pesquisados e reconhecidos pelo paciente como parte do processo de tratamento.
No entanto, é muito difícil a pessoa afetada admitir sua fragilidade. “Assim como o alcoólatra nega que tenha distúrbios mentais graves geradores do uso imoderado da bebida, o mal-humorado não assume sua condição interna transtornada. Costuma argumentar com firmeza a favor de suas atitudes, discorrendo sobre as tantas coisas erradas causadores de seu comportamento indignado e revoltado. Como atribui aos outros a culpa por suas reações raivosas, fica mais difícil convencer o “mal-humorado” que ele deve buscar tratamento”, explica o médico.
Nessas situações, é muito comum só procurar ajuda quando os sintomas se agravam e as situações se tornam insustentáveis. Muitos têm o relacionamento profissional, afetivo, fraterno e familiar significativamente prejudicado ao longo da vida por conta do seu comportamento “difícil” e hostil. Há também os que acabam se metendo em confusões e brigas bastante sérias que lhes trazem consequências.
Contudo, o agravamento da patologia pode ser evitado com tratamento psiquiátrico e psicoterapia psicanalítica adequados. “A psicoterapia ajuda a criar reforços estruturais internos com a descoberta, reconhecimento e resolução dos conflitos interiores, gerando mudanças psíquicas, que resultam em novas formas de se relacionar (tanto com os outros quanto consigo)”, esclarece Zanin. A efetividade e duração do tratamento dependem, naturalmente, da participação/entrega do paciente.
Se nada for feito, a situação pode se agravar com a idade, não só pelo histórico e pela maior resistência da pessoa mais velha a mudanças, como ainda pela interferência de outras doenças.
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