Acostumada às dificuldades de sua profissão, Nicole Simões, 24 anos, exerce a odontologia com empenho. Formada há dois anos pela Universidade de Nova Iguaçu (Unig), ela já trabalhou em clínicas e consultórios particulares no interior do estado do Rio de Janeiro e em alguns municípios da Baixada Fluminense.
Ela encara um dia a dia cansativo de horas de trabalho em um consultório e ainda viaja uma vez por semana para Rio das Ostras, na Região dos Lagos, no Rio, para atender pacientes pela prefeitura do local. Sua motivação é o amor e o carinho com os pacientes porque ela acredita que sem isso não há como fazer um bom trabalho.
O ramo de atuação do dentista é muito grande e sem dúvida é necessária uma grande destreza manual. Mas as dificuldades são muitas, e uma delas é educar a população da importância da higiene bucal.
Para ter retorno financeiro, é necessário investimento na carreira. Com dedicação e um bom suporte é possível ter alguns ganhos. Para os interessados na Odonto, um conselho de Nicole: “façam tudo com muito amor, tudo se torna mais fácil”.
O que a levou a escolher odontologia como profissão?
Foi meio por acaso. Era bem nova e a escolha foi difícil. Tinhas várias idéias e fiquei indecisa. Queria Medicina, mas achava que deveria ser um sacerdócio, e que me consumiria mais do que qualquer coisa na vida. Pensei em Comunicação Social, Psicologia, até que decidi mesmo pela área de saúde e como tive uma excelente dentista para me espelhar, optei pela Odontologia.
Você tem alguma especialidade?
Estou começando agora a pensar na especialização e devo fazer as provas no meio desse ano.
Qual deve ser o perfil do estudante que pretende seguir esta carreira?
Acho que não tem um perfil pré-determinado. A minha turma era bem heterogênea e cada um do seu jeito era bom no que fazia. Só acredito que tenha que gostar de lidar com as pessoas, servir, amar, pois temos que gostar muito do que fazemos, senão fica praticamente impossível.
Como é o trabalho de um dentista?
Depende da área que ele atua. O trabalho do dentista de uma maneira geral, exige muita atenção, paciência, destreza manual e um bom preparo físico (a maioria dos profissionais que não faz alongamentos ou exercícios físicos está fadada a problemas futuros na coluna, devido à posição do trabalho). Além disso, há os que lecionam ou se dedicam às pesquisas e ainda os que trabalham em hospitais ou somente com pacientes especiais. O leque de possibilidade é bem grande na profissão.
Em que áreas o dentista pode atuar?
Como já disse anteriormente, agora o dentista pode atuar em hospitais, clínicas, lecionar, fazer trabalhos comunitários, atender bebês, idosos, gestantes, pacientes especiais e não só ficar no consultório como antes.
O que você considera como sua maior realização profissional?
Sem dúvida a possibilidade de educar as pessoas. Num recente levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi evidenciado que 19% da população brasileira nunca foi ao dentista e na zona rural esse número chega a 32%. Por isso, é um ideal levar o conhecimento para o máximo de pessoas possível, noções de saúde oral e conscientização sobre os problemas das doenças da cavidade oral, que acabam atingindo todo o organismo. Como diz a expressão latina “in ore oritur sanitas”, saúde começa pela boca.
Que tipos de problemas ou angústias existem na sua profissão?
Alguns dados assustam muito, por exemplo, 95% de nossa população – seja infantil, adulta e de classes sociais diferentes – tem a doença carie e a doença periodontal (que ataca as gengivas). Só aí dá para perceber a quantidade de problemas do nosso dia a dia. A população não tem muita informação; a maioria das pessoas chega até nós com traumas passados (principalmente psicológico) e por medo ou limitação financeira posterga-se o tratamento até o limite e aí se incluem dores na articulação, perdas precoces de dentes, problemas com próteses, reabsorção óssea e até câncer bucal (nem sempre em estágio inicial). O mais frequente é ver pessoas que querem se cuidar e não têm possibilidade ou priorizaram outras coisas em vez da saúde bucal.
Odontologia é um ramo valorizado no Brasil?
Depende muito da região onde se trabalha, de conhecimento para conseguir trabalho, da especialização e do suporte financeiro. Com certeza é preciso muito investimento na carreira. Tanto na parte financeira (sempre precisando fazer cursos, participar de congressos, comprar livros, revistas), quanto na parte de estudo e trabalho. Com dedicação e suporte é possível ter uma boa remuneração.
Em algum momento você pensou em desistir da sua carreira?
Não pensei em desistir, pois sou uma pessoa extremamente otimista, mas muitos conhecidos já pensaram e até desistiram. Tem horas que bate um desânimo, principalmente pela falta de mais oportunidades de empregos fixos e pela baixa remuneração na maioria dos trabalhos que geralmente oferecem uma porcentagem muito pequena e não dão direito a nada. Só se tem deveres a cumprir.
Qual a dificuldade de um recém formado para entrar no mercado de trabalho?
A dificuldade é conseguir um lugar para trabalhar que realmente valorize o profissional, que respeite os direitos trabalhistas e que exijam o humanamente possível. Trabalhar com qualidade.
Que dicas você dá para quem está ingressando na faculdade e quer seguir sua área?
A dica é dedicação, estudo e paciência para esperar os frutos de um bom trabalho. E que faça tudo com muito amor, porque sem gostar dessa área, tudo se toma mais difícil.
