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grande profissional!

Ricardo Prado tenta sintetizar os opostos tanto na música quanto no texto

Ricardo Prado | Músico

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Música sempre foi algo muito presente na vida Ricardo Prado. Incentivado pela família, começou a tocar piano e não parou mais. Na hora de prestar vestibular, no entanto, o pai tentou convencê-lo a estudar economia. A experiência durou dois semestres e meio. Em plena aula de cálculo, Ricardo estava lendo um livro sobre arte quando foi interrompido pelo professor. Neste dia, ele resolveu que se dedicaria integralmente à música.

Começou regendo coros, até ser convidado por Isaac Karabichetvsky para preparar a Orquestra Sinfônica Brasileira. Ricardo Prado treinou a OSB para tocar "A Sagração da Primavera", uma obra considerada de difícil execução. Foi o passaporte para começar a reger orquestras por todo o Brasil. Entre outros eventos importantes de música erudita, participou dos Concertos para a Juventude e da Bienal de Música Contemporânea.

Como você escolheu a profissão de maestro?

Minha família sempre gostou de música. Meu pai era economista, mas tocava nas horas vagas. Minha mãe era costureira, mas também tocava piano. Uma avó e uma tia também cantavam. Enfim, havia todo um ambiente familiar que me permitiu ter contato com a música desde pequeno. Comecei a estudar piano aos quatro anos, aquilo para mim era um prazer. Sempre que podia, corria para o piano. Na época do vestibular, meu pai queria que eu fizesse economia e tomasse a música como hobbie. Fiz o vestibular, passei e cursei dois semestres e meio.

Um dia, estava lendo um livro de História da Arte durante uma aula de economia. O professor, cujo nome não recordo, me parou e disse, serenamente, que aquela cadeira, aquela vaga que eu ocupava era um patrimônio público. Eu não podia fazer dela o uso que eu bem entendesse. Nessa hora, pedi obrigado a ele e saí da sala para nunca mais voltar. Aquele homem mudou a minha vida naquele momento.

Foi então que você decidiu estudar música?

Sim, saí de lá determinado a ser músico. Fiz vestibular novamente, para a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro e passei em primeiro lugar. Naquela época, a prova de habilitação específica era muito difícil. Para me preparar para o exame, estudei com duas professoras particulares. No meio tempo entre o vestibular e o início da faculdade, conheci o regente John Neschling  e comecei a ter aulas particulares com ele. Quando iniciei o curso da Escola de Música, fiquei chocado. Havia professores bons, mas outros que eram simplesmente péssimos. Certa vez, um deles ensinou algo errado em sala de aula. Como eu tinha aulas com o Neschling, percebi o erro dele na hora. Acabamos discutindo e eu desisti da faculdade. Hoje, no entanto, a Escola de Música melhorou significativamente, o ensino musical no Brasil melhorou.

Quanto tempo durou o seu aprendizado com o Neschling? Você teve outros professores particulares?

Depois de dois anos estudando com o Neschling, resolvemos parar. Ele estava se casando, começou a reger muito e a fazer direção musical também. Não tinha muito tempo para as aulas. Até que assisti a um concerto do Camargo Guarnieri na Sala Cecília Meirelles. Nesta época ele já não dava mais aulas. Fui para São Paulo atrás dele e insisti até que ele aceitasse me tomar como aluno. Estudei quatro anos com ele.

Você fez algum curso superior em música?

Tentei estudar música em instituições em São Paulo e em Campinas, mas nunca consegui me adaptar à vida acadêmica. Havia sempre uma obrigação de ter filiações estéticas. Por exemplo, existia o grupo dos nacionalistas e o dos dodecafônicos, que não suportavam um ao outro. Eu achava aquilo uma estupidez porque conseguia ver coisas boas e ruins nos dois grupos e em vários outros. Vejo músicos que fazem uma vida acadêmica para se sentirem seguros. Eu jamais usaria a academia como uma solução para resolver a minha insegurança. Hoje, não existe mais estabilidade profissional. A vida artística é uma vida de risco.

E como você entrou no mercado de trabalho?


Segui o caminho tradicional pelo qual todos os regentes passam. Comecei a reger coros, primeiro em casa, depois no Banerj. Reunia minha família e treinava com eles. Quando achei que estava pronto, montei um coral no Banerj. Ninguém ali era músico ou estudava música. Eram bancários que se reuniam depois do expediente para cantar. No coro, ocorre uma coisa interessante. Você não ouve sua própria voz, mas a do conjunto. Por isso, fica mais fácil perder a vergonha e se soltar. O coral do Banerj cresceu e começamos a participar de festivais de colégio, a ir para o interior do Estado. Começamos a ficar conhecidos e a ser elogiados. A partir daí, comecei a reger vários coros. No início dos anos 80, havia uma explosão de coros.

Como você definiria a profissão de maestro?


Com o coral do Banerj, aprendi que ser maestro não é só entender de música. Você tem que gostar de gente. Reger é saber fazer o outro vencer medo de cantar, acreditar em si mesmo, ter autoestima. Não é a profissão do comando, mas do convívio. Você tem que desenvolver a capacidade de dar soluções para os problemas. O estereótipo do maestro como um ser mítico e temperamental está equivocado. Se ainda existem profissionais assim, eles devem acabar. O maestro tem várias responsabilidades. Ele busca os recursos, dinheiro, monta o organograma da orquestra. Mas antes de tudo tem de entender que a música é uma realização humana. Desconsiderar isso é o mesmo que ignorar que a música é feita por pessoas para pessoas. No meio disso há um compositor, uma obra. Outra coisa: música não é som, é ideia. Lidamos com idéias que são idéias musicais.

Além dos coros, você regeu orquestras. Como foi essa passagem?

Quando você começa a reger coros e a fazer sucesso, seu nome fica conhecido no meio musical. Um dia, me indicaram para o Isaac Karabtchevsky, que, para me testar, pediu que eu preparasse a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) para ele. A peça era "A Sagração da Primavera", de Igor Stravinsky, uma peça de extrema dificuldade. Ao me pedir isso, ele estava avaliando várias coisas ao mesmo tempo, como minha capacidade musical e controle emocional. Fui bem no teste e a partir daí passei a reger orquestras, a participar dos Concertos para a Juventude, da Bienal de Música Contemporânea etc.



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