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Para Márcio Tavares, a Filosofia encontra espaço para a invenção no Brasil

Márcio Tavares do Amaral | Filósofo

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O filósofo Márcio Tavares do Amaral descobriu cedo e, por acaso, a sua paixão pela Filosofia. Aos 12 anos, encontrou na biblioteca do pai um livro sobre História da Filosofia, devorou-o e, a partir daí, sempre soube que seria filósofo. Na hora do vestibular, porém, acabou se inscrevendo para Direito, por influência do pai. Cursou a faculdade, mas nunca deixou de estudar Filosofia por conta própria.

Em 1971, Márcio Tavares começou a lecionar Filosofia na recém-criada Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A partir desse momento, não fez mais nenhum curso de outra área. Fez o mestrado na Escola de Comunicação com orientação do filósofo Emanuel Carneiro Leão. O Doutorado foi na Faculdade de Letras da UFRJ, porque, naquela época, 1975, ainda não havia doutorado na Eco.

Nas duas especializações, no entanto, o tema sempre foi a Filosofia, uma área de conhecimento que ele considera fundamental para entender as transformações do mundo moderno.

Como você escolheu ser filósofo?


Aos 12 anos, devorei um livro de História da Filosofia que encontrei na biblioteca de meu pai. Aos 13 anos, comprei meu primeiro livro, "A República", de Platão. Desde essa época, eu já queria ser filósofo. Mas, por influência de meu pai, que era advogado, cursei Direito na PUC-RJ e estudando Filosofia por conta própria. Na faculdade de Direito, minhas matérias prediletas eram Ética, Introdução à História do Direito, Filosofia do Direito. Eu queria ser professor de uma dessas cadeiras, mas, por causa de meu histórico na militância estudantil, não me aceitaram. Passei a ser professor de Filosofia na Escola de Comunicação da UFRJ, cujo corpo docente ainda estava sendo montado. Fui para lá por um acaso, mas um excelente acaso.

Quais as vantagens de dar aula na Escola de Comunicação?

Na Escola de Comunicação, não ficamos presos ao formalismo próprio dos cursos de Filosofia. É um curso mais voltado para a problematização da nossa atualidade a partir dos fundamentos filosóficos. Um desses assuntos é o impacto das novas tecnologias sobre a relação espaço-tempo na sociedade contemporânea. Comecei na Eco em 1971 e criei o laboratório de História dos Sistemas de Pensamento, que é, na verdade,o mesmo que História da Filosofia. Tive vários orientandos e formamos um grupo de referência em Filosofia no Rio de Janeiro.

Em que áreas de estudo você fez o seu Mestrado e o seu Doutorado?

Minha tese de mestrado foi em Filosofia da Comunicação, na Eco, e meu Doutorado teve como tema "Arte e Sociedade, uma visão histórico-filosófica". Ambas foram orientadas por Emanuel Carneiro Leão, um dos maiores filósofos brasileiros. No pós-doutorado, entre 1984 e 1985, também estudei Filosofia. Eu seria orientado pelo Michel Foucault, mas ele faleceu um mês antes de eu ganhar a bolsa e meu orientador acabou sendo o Jean Baudrillard, que ainda era professor na Sorbonne.
Qual a importância da Filosofia para o mundo atual?

Acredito que a Filosofia tenha hoje uma importância e uma utilidade radicais porque nossos jovens deixam de ser reflexivos. Hoje, o sucesso tecnológico é visto como suficiente. Não se deseja entender seu fundamento. Não refletir filosoficamente pode significar uma perda cultural muito grande. Temos que refletir hoje sobre o que é a realidade virtual e as suas implicações para a nossa sociedade.

A Filosofia não tem recebido mais atenção da mídia nos últimos anos?

Sim. De três ou quatro anos para cá, a Filosofia entrou na moda. Começaram a aparecer no Brasil os Cafés Filosóficos, uma invenção francesa que propõe reunir filósofos e cidadãos comuns para uma conversa informal sobre questões ligadas ao cotidiano. Os livros de divulgação filosófica também começaram a fazer bastante sucesso, como é o caso de "O Mundo de Sofia". Claro que este fenômeno recebeu críticas dos filósofos mais rígidos, que consideram essa moda uma banalização da disciplina. Esses filósofos também costumam criticar os jornalistas que fazem análise de livros de Filosofia.

 

Você acha que está havendo uma banalização da Filosofia pela mídia?

Vivemos numa Sociedade de Consumo, em que as coisas que o que está na moda passa a ser desejado. Acho positivo que a Filosofia saia da obscuridade e entre na ordem do desejo. Agora, se vai haver ou não a banalização, isso dependerá da forma como os filósofos vão escrever esses livros de divulgação.

Quais as perspectivas para a Filosofia no Brasil?

Sou otimista em relação a esse assunto pelo mesmo motivo pelo qual outros são pessimistas: a falta de tradição filosófica no Brasil. Não ter essa tradição é ruim, porque significa que a nossa cultura não procura a reflexão filosófica como algo natural. Nós precisamos estimular isso. Por outro lado, não ter tradição nos dá mais liberdade de invenção filosófica.

Quando a Filosofia surgiu na Grécia, há cerca de 2.500 anos, havia muita liberdade para experimentar. Guardadas as devidas proporções, acho que nós, brasileiros, temos chances de experimentar. Na França, um país de sólida tradição filosófica, os filósofos têm menos liberdade para fugir do padrão. Se um cartesiano se desvia da sua linha de pesquisa, entra imediatamente na linha de tiro da comunidade acadêmica. No Brasil, não temos essas amarras.

 

 



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