Profissionais de Sucesso

Sempre uma entrevista com um
grande profissional!

O premiado jornalista revela as boas e más notícias da profissão

Aziz Filho | Jornalista

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O premiado jornalista Aziz Filho começou como freelancer no jornal de bairros do jornal O Globo, no Rio. O caminho, apesar de árduo como ele conta nessa entrevista, valeu a pena. Aziz hoje é editor da revista Isto É, apresentador do programa Brasil Urgente na TVE, e integra a equipe do programa Cidadania Brasil, do canal GNT.

Nesses anos, foi repórter de política do Globo, Jornal do Brasil, O Dia, Folha de São Paulo. Na bagagem, vários prêmios: Esso, Líbero Badaró de Reportagem, Grande Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo, Prêmio do Tortura Nunca Mais, menção Honrosa do Rei de Espanha. "Todos fruto do trabalho em equipe que produziu a série de reportagens sobre a Guerrilha do Araguaia no Globo, em 1996", ele assinala. Em 1991, Aziz Filho já havia sido finalista do prêmio Líbero Badaró com uma entrevista do general João Figueiredo, em que o ex-presidente admitia pela primeira vez que a bomba do Riocentro tinha sido obra de militares.

Vale a pena conferir a entrevista desse jornalista que não esconde a paixão pela profissão. Ele dá as melhores dicas para quem está prestes a entrar nesse mundo divertido, dinâmico e versátil, mas ao mesmo tempo cheio de responsabilidades que é o Jornalismo.

O que te levou a escolher Jornalismo como profissão?

Acho que uma mistura de muitos elementos. Pertenço à turma final de uma geração retardatária, que ainda via o mundo com muito romantismo ideológico, acreditava em poder mudar o sistema. Para mim, a melhor forma seria escrevendo, denunciando, investigando, gritando e desafiando pela escrita. Quando me apaixonei por esse sonho o muro de Berlim não tinha caído, a coletividade não valorizava tanto o individualismo como hoje e a gente acreditava muito mais em revoluções. Era uma geração que abria mão do individual pela coletividade. Isso certamente contribuiu. A visão excessivamente romântica da profissão também, certamente. Minha geração, no fundo, era meio frustrada por não ter mais a chance de pegar em armas ou violões para derrubar uma ditadura. Mas ainda acreditava em mudar o sistema, contestar o imperialismo, o capitalismo, essas coisas que hoje parecem devaneios.

O vestibular e o mercado de trabalho já eram tão disputados quando você fez sua escolha?

Sim. Eu me formei em 1988. A concorrência por uma vaga de jornalismo já era comparável à de profissões clássicas como medicina ou engenharia. O mercado de trabalho também era muito disputado. Já existiam quase todas essas faculdades caça-níqueis despejando profissionais num mercado sem vagas. É claro que as redações eram menos enxutas, havia mais gente nas editorias. Mas em compensação, não havia a Internet com sua velocidade enorme de expansão e de criação de vagas de trabalho. Nem havia as TVs a cabo, outro filão. Nem as assessorias de imprensa eram tão valorizadas e necessárias como hoje. Juntando tudo isso, acho que quando comecei a situação era mais difícil.

Como você avalia hoje o mercado de trabalho para quem está chegando? Onde estão as melhores oportunidades?

O mercado de trabalho está aumentando com esses novos meios. Não me sinto seguro para imaginar como será o mundo com as mídias que certamente vão aparecer, ou se fundir, ou se modificar. Mas gostaria de dar uma dica para quem está saindo da faculdade. Mesmo com todas as mudanças, ainda acho que, para começar, nada é mais consistente e preparador do que a redação de um jornal diário. É ali que você adquire a versatilidade e a capacidade de se virar diante dos desafios que sempre vão existir para quem busca a informação.

Para ser ainda mais específico, acho que o melhor é começar pela editoria geral de um jornal. Logo de cara você aprende como é importante dominar um pouco de cada coisa, o que muitas vezes significa não dominar nada em profundidade.

Dizem que o jornalismo é emburrecedor por isso, mas não sou tão pessimista. É claro que um jornalista não pode achar que vai virar um PhD e produzir algo como a Teoria da Relatividade. Mas o fato de poder lidar com vários assuntos, circular em vários meios, estando sempre pronto para fazer uma pergunta e entender uma resposta, é uma experiência muito rica, ajuda você a perceber que a arrogância e a ilusão do sabichão é que empobrecem.

Voltando ao mercado de trabalho, é claro que não há vagas para todo mundo nas editorias de geral dos jornais diários, até porque a oligopolização do setor destruiu muitas delas. Neste caso, acho que o estudante deve refletir muito para detectar sua vocação, o que lhe dá mais prazer. Faço parte da turma antiga que vê o jornalismo como cachaça, como paixão. Independentemente de estar num jornal, numa TV, num site ou numa assessoria, é preciso gostar muito da profissão para vencer as frustrações que certamente vão acontecer, como deve ocorrer em qualquer profissão.

Que frustrações são essas?

No nosso caso, há particularidades que tornam essa paixão uma exigência, uma condição sine qua non. Não podemos, como um engenheiro, olhar para um prédio e dizer: olha o resultado concreto do meu trabalho. Nem ter a satisfação imediata de um médico, que salva uma vida, costura uma barriga, cura um paciente. Nós produzimos, ou melhor, conduzimos a informação. É preciso gostar muito para não se sentir impotente diante da impossibilidade de construir algo de concreto armado.

O que você destaca como características fundamentais para quem vai entrar na profissão?

Fundamentais? Ser bem informado é a primeira. Saber escrever é a segunda. É cada vez mais necessário escrever bem porque os veículos exigem hoje texto final. Não há mais os redatores, que funcionavam como babás dos jornalistas que relaxavam no idioma.

Outra coisa que sempre achei importante para um jornalista é não ser arrogante. É muito grande a tendência de atribuir a si mesmo muita importância porque fala ou almoça com o governador ou o delegado. Isso é uma bobagem muito grande e costuma castrar profissionais com todas as condições para o sucesso. Muito mais importante do que formular previamente perguntas para dar ao leitor a impressão de que você é inteligente é prestar atenção na resposta. A informação é sempre mais importante do que o jornalista. Falando assim parece óbvio, mas na prática não é tão claro.

Também é muito importante circular, conversar, desenvolver a capacidade de estar atento a tudo o que acontece ao seu redor. Uma conversa com um flanelinha ou um cobrador de ônibus pode render uma grande pauta. Não acredito na figura do jornalista que se enche de erudição na faculdade e se transforma num grande profissional sem sair do ar condicionado e sem prestar atenção nas miudezas da sociedade. É claro que tem muita gente despreparada assim ocupando cargos altos em veículos de peso, mas isso é outra conversa.

Há algo que não era exatamente como você esperava no cotidiano no jornalista?


Há muita coisa que encontrei totalmente diferente do que eu esperava. A gente saía da faculdade achando que, se chegasse ao clube fechado da grande imprensa, iria ter todo o espaço do mundo para escrever o que quisesse. Ilusão. As limitações de espaço, as conveniências da moderação e a necessidade de sempre ter um furo jornalístico ou um gancho criativo para conquistar espaço são dificuldades frustrantes. Eu também não achava que fosse trabalhar tantas horas, passar tantos fins de semana emburrado em plantões improdutivos. O profissional de jornal diário trabalha demais, acho um exagero. Tudo bem que o jornalismo seja uma cachaça, mas a gente não precisa ser alcoólatra.

E o que foi mais do que você esperava?

Especialmente pessoas. Tenho grandes amigos. A maior parte dos jornalistas é gente fina, bem intencionada, apaixonada, amiga. Pode parecer romantismo, mas isso faz diferença. Tomar chope no fim do expediente com os colegas da redação para falar mal do chefe ajuda muito a aliviar a pressão e é uma das diversões mais gostosas da profissão.

Também estou surpreso com a variedade de opções que o jornalista tem pela frente. Quando comecei, achei que seria ótimo passar a vida como repórter do jornal de Bairros do Globo. Acho que dei muita sorte, pude trabalhar em vários jornais e hoje sei que, além de fazer reportagens escritas, posso trabalhar em televisão, em rádio, na Internet, enfim, ser um multimídia. Essa palavra eu acho bacana e não existia na minha época, nem essa versatilidade era tão valorizada. Acho positivo um jornalista encarar os desafios de atuar em mídias diferentes, desde, é claro, que cada trabalho tenha uma remuneração distinta. É diferente do que os grandes jornais tentam fazer hoje, contratar um cara e obrigá-lo a falar em TV, rádio, internet e o que mais venha a aparecer por aí, sem aumentar sua remuneração.

Quais os maiores obstáculos da profissão?

O começo é o maior obstáculo. Se não tiver muito tesão para vencer as primeiras dificuldades com humildade, mas com determinação e ambição, você se acomoda no primeiro emprego ou nem chega a virar jornalista de fato. Outro obstáculo é trabalhar com a paixão que o jornalismo precisa sem ter uma remuneração justa. O jornalista gasta muito para se manter informado, frequentar os lugares, assinar TV a cabo, viajar para o exterior, essas coisas todas de classe média. Muitas vezes o salário inicial é um banho de água fria de primeira.

A obrigatoriedade de encontrar tempo para ler jornal, ver TV, ouvir rádio e agora ficar ligado nos sites informativos é outro desafio. É difícil, às vezes acho que não aprendi a fazer isso até hoje e que não vou aprender nunca. Mas é importante. Muitas vezes você precisa deixar de fazer o que gosta, desmarcar um compromisso, desistir de um programa de lazer, para ler. É um preço obrigatório. Quem mandou ser jornalista?

Você já ganhou diversos prêmios de Jornalismo. O que diferencia, na sua opinião, os bons jornalistas?

É muito difícil achar um jornalista completo, que atenda a todas as exigências com brilhantismo em cada uma. Mas não há uma receita infalível para dizer que o jornalista deve priorizar essa ou aquela qualidade. Conheço excelentes jornalistas, principalmente os antigos, que descobrem notícias espetaculares, mas provocam tragédias na hora de escrever. E conheço outros tantos que escrevem muito bem, mas não têm a menor sensibilidade para arrancar informações de uma fonte ou apurar com originalidade. Depende muito de cada pessoa.

Que conselhos você daria a quem está prestes a ingressar na faculdade?

Primeiro, pensar duas, três ou dez vezes se é mesmo isso que pretende para sua vida. Visite um jornal, converse com jornalistas, procure o sindicato para se informar da média salarial. Se depois de tudo isso a vontade persistir, vá em frente, sabendo que a chance de a sua vida ser um mar de rosas é praticamente nula. É preciso muito esforço, estar preparado para muito trabalho, ler muito, circular muito, aturar muita adversidade. Mas é bom. No fim das contas, acho ótimo ser jornalista. Não posso me imaginar costurando barrigas ou erguendo prédios.



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