Aulas de corpo, voz, dança, interpretação. É isso que o futuro ator vai encontrar em um curso de Artes cênicas. Embora grande parte dos artistas ainda suba aos palcos galgado apenas no seu dom natural, cresce no Brasil o número de artistas profissionais que vêm se formando nas diversas faculdades do País. Em cartaz durante o mês de novembro na Fosfobox, no Rio de Janeiro, com a peça Titus (Cia. Umbigo de Édipo), a atriz Luciana Fontenelle comenta os prazeres da faculdade de artes cênicas e fala como está o mercado de trabalho para essa profissão cheia de glamour, mas que também exige muita determinação e dedicação.
Que tipo de especialização é necessária para ser um ator profissional?
Conheci atores maravilhosos e super profissionais que se formaram exercendo o metier, desenvolvendo suas habilidades diretamente no palco. Acredito, no entanto, que quanto mais formação um ator puder adquirir, melhor. É preciso afinar o instrumento de trabalho: ele mesmo. Ter voz e corpo trabalhados, desenvolver atenção, foco, sensibilidade e percepção do mundo. Como um atleta que se prepara incessantemente para uma maratona, o ator deve desenvolver esse “atletismo afetivo”, e ser um atleta do coração. É necessário frequentar o teatro, ter contato com diferentes mestres e correntes de pensamento...
Como é a faculdade de artes cênicas?
É uma injeção de arte na veia. É claro, o curso – como todo curso público, estou falando da UNIRIO – padece daquelas mazelas recorrentes: burocracias, falta de estrutura. Mas oferece alguns professores geniais, e experiências maravilhosas. A beleza da faculdade de artes cênicas é dar ao aluno a capacidade de pensar criticamente o que está fazendo. Temos aulas de corpo, de voz, de dança, de diferentes estilos de interpretação, diversas abordagens cênicas. Há o oferecimento de inúmeras cadeiras optativas e que são fundamentais para a formação. E, se precisamos realizar as chamadas “práticas” – montagens – para nos graduarmos, também ganhamos uma boa bagagem teórica. Acho que talvez esse seja o principal diferencial: a formação de um ator capaz de se inserir num contexto e percebê-lo amplo. Perceber que não existem verdades absolutas, que há todo um mundo a ser explorado e que está sempre se reinventando a roda.
Puxa... Ética e companheirismo – esta é uma arte coletiva. Autoestima elevada – porque se ganha um sem número de “nãos”. Otimismo – pra esperar sempre que a resposta seguinte será um “sim”. Frescor e humildade – você está sempre recomeçando. É imprescindível manter o olhar de curiosidade e maravilhamento que a criança tem com relação ao novo, ao mundo. E muita, muita teimosia.
Como está o mercado de trabalho para a área?
Disputado... Competitivo. Acho que a cada ano aumenta a quantidade de “aspirantes a ator”, muita gente resolve enveredar por esse caminho. É a sedução de um glamour potencial, de um status. A grande maioria, quando vê que é muita dureza, acaba desistindo pelo caminho. Como em toda profissão, tem muita gente honesta, esforçada, profissional, apta, mas também tem muita gente desonesta, arrogante, pouco profissional e despreparada. Eu acredito firmemente que uma boa alternativa à insegurança é a do trabalho em Companhias de teatro. Permite um trabalho continuado, específico e realizado dentro de um clima de segurança e confiança. Claro que por fora, continua se correndo atrás de trabalhos variados e oportunidades, mas a Companhia representa um porto seguro.
Quais são as opções de trabalho para quem se forma em artes cênicas?
São múltiplas. Teatro, musicais, stand up comedy, teatro-empresa, dublagem, propaganda, oferecimento de cursos de teatro, dramaturgia, produção.
Qual é a média salarial para um profissional que se forma em artes cênicas?
Xi... Isso existe? Essa é uma pergunta praticamente impossível de responder. Quem envereda pelo caminho da arte educação, por exemplo, e termina com bacharelado em licenciatura, pode fazer um concurso e ter um salário base de uns R$1.200,00. Mas, de modo geral, o profissional de artes cênicas vive numa montanha russa, pode ser convidado pra fazer um projeto que passou num edital, daí ganha um salário de uns R$1.500 durante uns poucos meses. Pode fazer um espetáculo por porcentagem de bilheteria e ganhar R$0,75 ou 500 reais dependendo do sucesso ou fracasso de público. Pode fazer elenco de apoio em uma emissora e ganhar mil e poucos reais, e em outra já começar ganhando R$7.000. É uma incerteza só. Muita gente, por causa disso, apela para os “bicos” e para os empregos fixos em outras áreas.
Quais são as perspectivas para o futuro na área?
Acho que com a sofisticação e multiplicação de novas mídias as oportunidades de trabalho estão aumentando bastante, o que é ótimo para a classe. Mas o que se espera, é uma política governamental melhor de fomento para as artes, melhores leis de incentivo e de captação de recursos para projetos. Uma democratização do acesso a esses recursos.
Ozana Hannesch
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