Maritza de Orleans e Bragança é paisagista. Fala da profissão com o entusiasmo de quem é apaixonada pelo que faz. Mas, sua escolha profissional foi desabrochando e amadurecendo através do auto-conhecimento e das experiências de vida. No final, descobriu que podia reunir as situações que mais prazer lhe davam, como a arte, o desenho, a natureza e o trabalho com espaços, numa só profissão: o paisagismo.
Como despertou o interesse
Sempre tive uma ligação muito forte com a natureza e desde a infância aprendi a apreciar plantas e flores em geral. Aos 15 anos fui estudar na Inglaterra, quando tive a oportunidade de visitar vários jardins ingleses que me encantaram por suas características: eram ao mesmo tempo bastante organizados e naturais. A partir daquela época, passei a prestar mais atenção nos nossos jardins, a perceber as diferenças de estilo e as diversas variedades de vegetação existentes no Brasil.
Apesar do desenho e pintura serem as atividades que mais me atraíam na época, sempre mantive o interesse pela natureza. Após um curto período de estudos de História na PUC, decidi cursar arquitetura na Santa Úrsula, onde desenvolvi o meu gosto por desenho e projetos em geral. Neste período, fiz vários cursos de História da Arte e, ainda, um estágio no escritório do arquiteto Sérgio Bernardes. Neste mesmo período, fui sócia de uma galeria de artes por 2 anos, onde realizamos diversas exposições de pintura de vanguarda. A experiência foi extremamente rica, pois o contato com os artistas de vanguarda me ajudaram a desenvolver uma certa ousadia, procurando algo novo naquilo que se pretende criar. Posteriormente, tive a chance de morar em Londres novamente, período em que aproveitei para viajar pela Europa e conhecer vários parques, jardins botânicos e grandes jardins de castelos.
Formação e trabalho
De volta ao Brasil retomei o curso de Arquitetura, mas fiz vários outros ligados a paisagismo no Jardim Botânico e na Puc. Nesta época, surgiu a oportunidade de fazer um estágio no sítio do paisagista Roberto Burle Marx durante 10 meses e, pouco depois, trabalhei como supervisora / coordenadora de manutenção da Floresta da Tijuca.
Recentemente, fiz uma reciclagem, durante dois anos e meio, cursando Paisagismo na Universidade Veiga de Almeida – UVA, no RJ, um curso coordenado pelo paisagista Fernando Chacel. Lá, pude aprofundar o conhecimento sobre matérias mais específicas e técnicas para os paisagistas em geral, tais como estudos do solo, climatologia, botânica, topografia, pragas e doenças, urbanismo, entre outras.
Características da profissão, áreas de trabalho e conhecimento
Acho a profissão de paisagista extremamente interessante e instigante, ao mesmo tempo que é agradável, por permitir trabalhar em constante contato com a natureza. Estamos sempre aprendendo e vendo coisas novas e às vezes nos surpreendemos com soluções que podem ser simples, mas também muito bonitas. Entretanto, é uma profissão que requer conhecimentos e técnicas para a organização de espaços externos em praças, parques, condomínios, jardins de shoppings ou jardins residenciais.
É também função do paisagista auxiliar no desenvolvimento de projetos arquitetônicos, sugerindo locais para a implantação de casas em terrenos, de forma a aproveitar melhor as condições locais. Escolher a vegetação correta é fundamental. Portanto, o paisagista precisa perceber o entorno, as condições do clima, a luminosidade, o terreno, a terra, os ventos, enfim as condições gerais. Depois de visualizar este quadro, o paisagista precisa decidir como será a composição do jardim, se vai utilizar plantas altas, baixas, massas de vegetação grandes, pequenas, pontos focais, plantas esculturais e outros pontos interessantes. Para uma boa composição é fundamental combinar plantas, texturas, cores de flores, tonalidades...
Também tem importância para se desenvolver um projeto de paisagismo o conhecimento de vários estilos de jardins como o francês, o inglês, o italiano, o japonês, o tropical, o moderno, o exótico, o minimalista, etc...
Outro aspecto interessante no desenvolvimento de projetos de paisagismo é a possibilidade de se usar a vegetação de acordo com o ambiente, como, por exemplo, vegetação tropical, se o jardim for perto da mata atlântica, cactos e suculentas em regiões áridas ou praianas. Não se deve misturar vegetação que necessita de pouca água com outra que necessita de muita água.
Todas estas informações fazem parte do universo do paisagista que engloba conhecimentos gerais de climatologia, botânica, topografia, arquitetura, agronomia entre outros, sem deixar de mencionar noções de desenho e artes, para composições equilibradas. Cabe ao paisagista buscar esses conhecimentos e se aprofundar em alguns tópicos, pois para grandes projetos os trabalhos são realizados em equipe.
Como funciona o trabalho
O paisagista trabalha em diversos ambientes. Inicialmente deve visitar o local onde será realizado o projeto para observar o ambiente e para compreender as necessidades e expectativas do cliente. Depois, no escritório, trabalha na elaboração dos projetos, com o auxílio das técnicas existentes, como o sistema Autocad e material de desenho.
A elaboração de projetos requer a realização de pesquisas, para analisar o ambiente e o tipo de vegetação mais adequada para o local. Para tanto, é importante dominar outros idiomas, principalmente o inglês, pois os melhores livros são estrangeiros e existem inúmeros sites interessantes.
Finalmente, visitar chácaras para escolher as plantas a serem utilizadas. Depois de aprovado o projeto, é preciso acompanhar a montagem para que a execução fique de acordo com ele. Apesar das dificuldades de lidar com a fragilidade das plantas, é um grande prazer montar e ver o resultado final.
Alguns paisagista optam por só fazer o projeto, sem participar da execução. Eu prefiro fazer tudo. Além de se ganhar experiência, é uma realização ver o projeto executado.
Alegrias e desafios da profissão
Acho muito gratificante o meu trabalho, pois o contato com a natureza é maravilhoso. Considero o paisagismo uma forma de expressar a arte através das composições e combinações de plantas. Ao mesmo tempo, é um desafio difícil,já que precisamos respeitar regras e necessidades que a própria natureza nos ensina, soluções que não podem ser imediatistas e que nem sempre são simples como parecem. Por isso é uma profissão muito especial.
Ozana Hannesch
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