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grande profissional!

O magistério é uma relação de troca e de muito amor entre as partes

Chico Alencar | Professor e deputado

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“Uma relação de respeito, de troca, de muito amor entre as partes, uma relação viva, criativa, em qualquer circunstância”. Dessa forma, o professor de História e deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Chico Alencar, define como deve ser a relação professor-aluno. Chico Alencar sempre foi um apaixonado pela comunicação humana. Isso, aliado a sua curiosidade em entender a própria humanidade, o fez optar pelo magistério.

Chico é autor de diversos livros didáticos e infanto-juvenis e lecionou durante mais de vinte anos em colégios da rede pública e privada. Apaixonado pela profissão, acredita que é fundamental para quem quer ingressar na vida de professor, ter muita capacidade de doação, entusiasmo e vontade de lutar para melhorar as condições de trabalho. Para ele, num mundo de informações superficiais, o papel do professor é acima de tudo ajudar o aluno a pensar.

Ser professor no Brasil é um exercício de coragem. O que te moveu para essa profissão?

A necessidade de comunicação. Eu, desde que comecei a me definir no mundo com 15, 16, 17 anos, sempre fui muito fascinado pela comunicação humana, pela troca de ideias, pela possibilidade de repartir a vontade de conhecer o mundo, dividir a curiosidade diante do mundo. E acredito que esse impulso inicial da vontade de comunicação foi decisivo para que eu depois, entre a própria profissão do jornalismo e a do magistério, me definisse por essa e me formasse em História. Eu não sou professor simplesmente. Sou professor de História, porque junto essa vontade de comunicar, de trocar, de dividir a curiosidade, com essa enorme ânsia de entender a própria humanidade. Isso tudo faz parte do ofício do professor.

Como era o mercado de trabalho quando você começou?

Eu comecei a lecionar em pleno milagre brasileiro. Que milagre era esse? De um desenvolvimento econômico, industrial, bastante razoável, em plena ditadura militar, nos anos 70, a partir da reconcentração da renda e de um contexto de fazer com que algumas escolas, que tinham alunos da classe média alta, pudessem pagar bem aos seus professores. Por outro lado, como era exatamente o período da ditadura, eu comecei substituindo um grande e inesquecível professor, o Manuel Maurício de Albuquerque, que estava preso. Ele tinha uma lista de substitutos eventuais para o caso de prisão dele e eu, com muita honra, era um desses jovens, ainda estudando, ainda na faculdade, era um dos substitutos, até que ficássemos marcados e fôssemos nós os prisioneiros. O mercado de trabalho nesta época, por incrível que pareça, era bem melhor que o de hoje.

E hoje, Chico? Como anda o mercado e o que, na sua opinião, pode ser feito para melhorá-lo?

A escola é sempre dependente das condições econômicas. Em períodos de crise a escola entra em crise. No âmbito particular os pais têm dificuldade de pagar, as escolas têm dificuldade de sobreviver, acabam remunerando mal os professores e quando não há uma política pública de incentivo à Educação, de prioridade à Educação, quando como hoje a gente vê que há, inclusive, um projeto de minimizar a Escola Pública, em todos os níveis, é claro que o mercado se retrai, é claro que a dificuldade para o exercício da profissão e o aviltamento salarial crescem muito.

A realidade da sala de aula das escolas públicas e das escolas privadas é muito diferente. O que você assinala como importante na conduta do professor diante dos alunos nesses dois ambientes?

A escola pode ser diferente, uma pública, outra privada, os alunos mesmo podem ser de origens sociais diferentes. Em geral, a escola particular é com gente de situação financeira melhor e a escola pública é de gente mais pobre. Agora, a relação professor-aluno tem que ser única, de respeito, de troca, de muito amor entre as partes, uma relação viva, criativa, em qualquer circunstância. Não é porque está na escola particular, ou eventualmente, numa escola que pague melhor, que o professor vai se dedicar mais. Embora isso aconteça até, é inaceitável!

As novas tecnologias invadiram o mundo e, por conseguinte, a educação. Como você avalia a presença da tecnologia na sala de aula?

O uso do computador, da internet e de outras técnicas na sala de aula não substitui o professor. Essas novas tecnologias têm que ter um uso muito cuidadoso e que ajude na busca do conhecimento, mas nada substitui esta relação humana, direta, artesanal, do professor com o aluno. Tudo mais, todos os equipamentos ajudam, complementam, mas não substituem o professor.

O comportamento dos alunos também mudou muito. Você acha que hoje é mais difícil trabalhar com as crianças e adolescentes?

Eu acho que não, todo professor tem a obrigação da atualização, ele tem que ser uma pessoa ligada no seu tempo, na sua época, e cada época tem as suas características, as suas diferenças. Eu não sou daqueles saudosistas que ficam chorando o tempo em que os alunos respeitavam mais os professores. Não, essa relação, muitas vezes, ela é formal,  falsa,  até de medo, o que é péssimo numa relação de educação. Tem que haver é confiança, respeito mútuo. É preciso entender que  o professor conhece mais do que o aluno determinadas matérias, as matérias que ele ensina.  E o aluno, se for bem trabalhado e compreender a situação em que está, ele colabora, ele participa.

A agitação natural num mundo de informações superficiais que as crianças e os adolescentes recebem ela deve ser exatamente tratada no colégio. Eu diria que a escola e a aula são o filtro desse conjunto de informações que se recebe, que traz, além das coisas boas, muita porcaria. A escola existe para não deixar as porcarias prevalecerem.

Que conselhos você dá para quem quer seguir essa carreira?

Em primeiro lugar ter entusiasmo com o ofício de professor que é realmente fascinante. Se a gente olhar bem, fazendo um levantamento da vida, quando a gente cresce, quando se é adulto,  vai perceber que um dos profissionais, com quem a gente lidou, que cuidou da gente, mais importantes, foi o professor. Todos têm os seus professores inesquecíveis, alguns têm até as suas aulas que jamais desaparecerão da memória. Também é interessante ver o seguinte, o professor é dos poucos profissionais que dá aula, cujo ofício está sendo conjugado pelo verbo dar. O engenheiro calcula, o médico clinica, o advogado defende, o trabalhador rural lavra, o operário fabrica e o professor dá aula.

Alguns espertalhões, comerciantes do ensino, usaram isso para explorar o professor, fazendo quase com que ele não venda a aula e sim dê a aula. Mas na verdade, o sentido da palavra é muito mais de doação, de entrega de uma coisa generosa e bonita, de você dividir com os outros aquilo que você aprendeu.

Então acho que, em primeiro lugar, é fundamental ter entusiasmo com este ofício; segundo, estar disposto a enfrentar dificuldades. Ser professor é a impossibilidade de vir a ser rico, tem que ter uma escala de valores onde os bens materiais não estejam em primeiro lugar, o que não significa gostar  de sofrer, de ser explorado, de viver na miséria. Não! É, portanto, se entusiasmar com o ofício, ter capacidade de doação, de entrega, e também vontade de lutar para melhorar as condições de trabalho.
 



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