Profissionais de Sucesso

Sempre uma entrevista com um
grande profissional!

O físico pode trabalhar com física aplicada, na indústria, na área de pesquisa e como professor

Álvaro Nogueira | Físico

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O interesse pela astronomia e pelas questões da Física manifestou-se em Álvaro Nogueira quando ele ainda era uma criança. Aos 16 anos, ele optou por estudar Física e formou-se, em 1989, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Hoje, é pesquisador associado ao Grupo de Física Teórica José Leite Lopes e colaborador da Coordenação de Teoria de Campos e Partículas do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). O mestrado e o doutorado ele concluiu no CBPF.

 

Física é o estudo científico da relação entre matéria e energia, suas propriedades e as leis que regem sua interação. O bacharel em Física estuda corpos e fenômenos físicos, da menor partícula subatômica às fronteiras do Cosmos. As especializações são em acústica, plasma (gás rarefeito com elétrons e íons positivos livres), astrofísica e física nuclear. O físico pode trabalhar com física aplicada, na indústria, na área de pesquisa e como professor.

 

O que o levou a escolher Física como profissão?

 

Vocação. Desde pequeno me interessava por questões intuitivas, relativas ao que mais tarde aprendi a denominar de Astronomia, Cosmologia e Física das Interações Fundamentais. Encantava-me a “simples” existência dos astros e me fascinavam as diferentes visões de universo. Um fato marcante foi um livro sobre Astronomia e Astronáutica (ciência e técnica do vôo no espaço cósmico) que ganhei aos seis anos de idade. Simplesmente irresistível. No colégio, tinha interesse por história antiga, geografia (passava dias explorando um Atlas), línguas (outra paixão), biologia, e o gosto pela matemática conviviam com a fantasia – assim me parecia – dos novos conceitos da física. Aos 16 anos optei pela Física.

 

Qual foi sua especialização?

 

Fiz mestrado e doutorado em Física Teórica de Altas Energias, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Isso quer dizer que estudo e pesquiso a natureza num regime de energias que não se encontra no “cotidiano” do nosso universo, mas que já prevaleceu em épocas passadas, no “começo” da vida.

 

Qual deve ser o perfil do estudante que pretende seguir essa carreira?

 

Perfil? Essa palavra me arrepia... A idéia de qualidades prontas e de suas prováveis utilidades coloca o homem a serviço submisso da prática profissional. As graduações em física, em geral, são bastante exigentes, o que pede muita disposição e sincero entusiasmo para o estudo. Mas o mais importante é a paixão pelo exercício de juízo crítico e o espírito aberto. A crítica (construtiva) constante e o debate amplo e permanente são o núcleo de nossa atividade profissional, é o que constrói nossa competência.

 

Que tipos de mudanças ocorreram na sua carreira nos últimos anos?

 

Pouca coisa mudou, embora haja intensa discussão na comunidade de físicos.  As novas licenciaturas têm sido propostas e já há algumas em funcionamento, permitindo a revalorização dessa carreira essencial à educação básica. Até então, o profissional era tido como um físico incompleto treinado para fazer o que basta em sala de aula (um absurdo, obviamente). Quanto à formação do pesquisador, ao bacharelado seguiam-se, imediatamente, as obrigatórias passagens pelo mestrado e doutorado. Recentemente, têm-se dispensado, com mais freqüência, a passagem pelo mestrado, admitindo-se a realização do doutorado logo após a graduação. Houve, ainda, o surgimento de graduações com ênfases mais específicas, como a Física Médica.

 

É uma carreira valorizada no Brasil?

 

A valorização oscila fortemente. O mercado é tipicamente a academia: universidades e institutos de pesquisa. Entre as universidades, quase a totalidade da prática de pesquisa vem das instituições públicas. As de fundo privado representam um mercado em franca expansão para a contratação do físico titulado, mas, raríssimas são as exceções, como professor que recebe por hora de trabalho, sem qualquer estímulo efetivo à prática da pesquisa. Vale ressaltar ainda que a carreira não é regulamentada (não tem conselhos, regional ou federal, código de conduta formal, sindicato próprio etc.).      

 

Qual a sua maior realização profissional?

 

Ter contribuído na fundação do Grupo de Física Teórica José Leite Lopes, uma associação sem fins lucrativos voltada para a pesquisa. O professor José Leite Lopes é um dos maiores físicos desse país reconhecido internacionalmente por suas importantes contribuições em Física de Partículas e Campos e, também, por sua enérgica e competente defesa da ciência como indutora do desenvolvimento social. Tenho o prazer de ter participado, recentemente, de uma resistência oferecida pela Associação de Pós-Graduandos do CBPF a uma absurda diretriz da última gestão do Ministério da Ciência e Tecnologia, que planejava o fechamento dos programas de pós-graduação em física do Centro, um dos pioneiros no país.

 

Todos os seus sonhos e desejos profissionais já foram realizados?

 

De jeito nenhum. Que eu saiba, ainda estou vivo. Não há prêmio ou reconhecimento que encerre os desejos.

 

Que tipos de problemas ou angústias existem na sua profissão?

 

Há uma necessidade permanente, e desconfortável, de fazer entender a outros profissionais que, para um pesquisador em Física estudar e trabalhar são a mesma coisa. Estuda-se a vida inteira, necessariamente, o que é inerente e prazeroso, mas não é devidamente compreendido. Como obstáculo mais “objetivo”, hoje, evidencia-se a iminente ausência de espaço para contratação formal. O pesquisador em física, após o doutorado, pode passar uma década sobrevivendo de bolsas. Essa realidade tem agravado recentemente. A suspensão de concursos nas universidades públicas e a retração na concessão de bolsas de pós-doutorado geraram uma situação de desemprego. É urgente definir-se um plano de carreira.  

 

Um recém-formado tem dificuldades para entrar no mercado de trabalho?

 

A formatura para o pesquisador corresponde à conclusão do doutorado, e não da graduação. Um profissional que não possui um mestrado ou um doutorado acaba vítima de um pensamento errado nas instituições de que profissional sem especialização não tem direito à opinião e à participação nas decisões em seu instituto. A especialização tornou-se obrigatória para um vínculo contratual “estável”. Chamo esse pensamento de elemento cultural porque a idéia é tão forte que tem reflexos evidentes nas relações pessoais, acadêmicas e institucionais.

 

Que dicas você dá para quem está ingressando na faculdade e quer seguir sua área?

 

O aprendizado de um conteúdo, mesmo aquele apresentado nos cursos básicos, é um processo contínuo, que vai se refinando e se aprofundando com constantes revisões do assunto. É fundamental buscar o máximo de aproveitamento, mesmo o que pareça dispensável. Não se deve, também, restringir os estudos à bibliografia principal, que é um guia, não uma fonte exclusiva. Sempre manter a convicção de que a formação é um processo de contínua autoconstrução, e de que a capacidade de solucionar eventuais dificuldades no ambiente profissional é parte das competências que construímos, não podendo estas “angústias e problemas” sobrepujarem a vocação que, intimamente, apaixonadamente, acreditamos possuir.        

 



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