Profissionais de Sucesso

Sempre uma entrevista com um
grande profissional!

O engenheiro florestal Gaalahad Fernandes diz que a necessidade de mais qualidade de vida torna este

Gaalahad Fernandes | engenheiro florestal

A  A  A     
Escolher a profissão aos 18 anos nem sempre é uma decisão fácil. À frente da pouca experiência dos jovens existem várias possibilidades e optar por uma carreira significa renunciar a todas as outras. Mas o engenheiro florestal Gaalahad Fernandes, de 30 anos, não chegou a conhecer este tipo de crise vocacional. Durante a adolescência, ele fazia escaladas e caminhadas pelos Parques da Tijuca e de Itatiaia e pela Serra dos Órgãos. Pelo meio do caminho, Gaalahad foi encontrando engenheiros florestais, ficou amigo deles e passou a vivenciar o dia-a-dia da profissão.

Quando chegou a hora de prestar vestibular, em 1992, a decisão sobre a carreira a seguir já estava tomada há muito tempo. Entrou para o curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Começou então a tomar contato com a teoria necessária para enfrentar um dos maiores desafios do mundo de hoje: a conservação das florestas e a difusão de uma consciência ecológica. Na entrevista abaixo, Gaalahad conta em detalhes como se apaixonou pela profissão que ele considera uma das mais importantes da atualidade.


Por que você escolheu o curso de Engenharia Florestal?

Escolhi a profissão de Engenheiro Florestal antes mesmo de prestar vestibular. Sei que isto não é muito comum nessa idade, pois muitas pessoas não conhecem o mercado e o ambiente de trabalho, a rotina das profissões... E isto pode até se tornar um problema no futuro, caso a escolha não seja acertada. Mas no meu caso foi diferente. Comecei a escolher esta profissão quando conheci profissionais da área nas caminhadas pelos Parques Nacionais (Tijuca, Serra dos Órgãos, Itatiaia) e nas escaladas que praticava. Naquela circunstância, vivenciava o trabalho, a rotina e os problemas de um engenheiro florestal.

Como é o currículo do curso? Quais as matérias mais importantes?

O currículo do curso acabou de passar por uma reestruturação, com a finalidade de adequar o perfil do profissional ao mercado de trabalho. O curso pode ser dividido, teoricamente, em três áreas: Silvicultura, Tecnologia da Madeira e Meio Ambiente. Com a reestruturação, a área ambiental ganhou uma importância maior. A Silvicultura refere-se à implantação, manutenção e conservação de florestas plantadas (comumente, reflorestamento de espécies de eucaliptos e pinus destinados à produção de papéis, celulose e carvão). A área Tecnologia da Madeira se ocupa do tratamento da madeira para a produção de móveis e a construção civil. Há ainda a área Meio Ambiente, na qual o engenheiro florestal é responsável pela implantação, manejo e conservação dos ecossistemas e pelo desenvolvimento sustentável. Dentro destas áreas, existem várias disciplinas importantes, como Manejo de Fauna e Floresta, Conservação dos Recursos Naturais Renováveis, Manejo dos Recursos Hídricos e de Bacias Hidrográficas, Planejamento de Unidades de Conservação (Parques e Reservas) e Incêndios Florestais.

Compare o mercado de trabalho para o engenheiro florestal na época em que você se formou com o da atualidade.

O mercado de trabalho é promissor. Principalmente à medida que a necessidade por qualidade de vida impõe a consciência ecológica. Um exemplo disto é a atual crise de energia. Num país onde a energia vem sobretudo de hidrelétricas, a conservação das florestas é fundamental na produção e regulação da água. De uma maneira geral, tanto o setor público quanto o setor privado vêm aumentando a procura por estes profissionais especializados.

Em que áreas o engenheiro florestal pode atuar?O engenheiro florestal pode trabalhar em vários ramos da economia. No setor primário (agrícola), ele atua junto ao produtor rural, como extensionista. No setor secundário (industrial), pode trabalhar nas indústrias de papel e celulose, nas siderúrgicas, nas indústrias de móveis e serrarias, de borracha e derivados e nas indústrias farmacêutica e alimentícia. No setor público, o engenheiro florestal pode atuar nas agências e órgãos de fiscalização ambiental. Outro campo são as organizações não-governamentais (ONG), que são os instrumentos de denúncia da sociedade.

Como é o seu trabalho atual? Está desenvolvendo algum projeto?

Atualmente, eu trabalho para uma ONG chamada Serviço Florestal do Rio de Janeiro. Aqui, desenvolvemos projetos que estimulam a proteção dos remanescentes florestais do estado do Rio de Janeiro. Estamos com três projetos importantes. No primeiro, "Interpretação Ambiental em Unidades de Conservação", treinamos guias florestais para orientar os visitantes sobre a fauna, a flora e as trilhas do Parque Nacional. Muitos visitantes não sabem o que significa uma Unidade de Conservação (Parque Nacional) e qual a sua importância. Há também a "Campanha Contra os Incêndios Florestais", em que monitoramos via satélite a ocorrência de incêndios florestais no estado e no Brasil. O fogo ainda é a maior ameaça às florestas. E, por fim, o "Projeto de Educação Ambiental", no qual promovemos a troca de experiências entre quem mora na cidade grande e o produtor rural. Um verdadeiro estágio de vivência para quem participa.

Qual a maior recompensa que você já teve na sua profissão?

Tive muitas recompensas pessoais como engenheiro florestal. Conheci lugares maravilhosos, paisagens onde a natureza expressa toda sua força e não se percebe a presença humana. Conheci pessoas e culturas que, apesar de serem brasileiras, não estão em nenhum livro. Sou um privilegiado em relação ao que a profissão pode proporcionar. Também tive muitas recompensas profissionais. Talvez a maior gratificação tenha sido a viagem que fiz para o Chile, onde participei de um intercâmbio com engenheiros florestais daquele país. A viagem foi o reconhecimento ao Projeto Canastra, um trabalho pioneiro no Brasil que desenvolvi em Minas Gerais. Era um programa de educação ambiental com a população do entorno do Parque Nacional Serra da Canastra São Roque de Minas.

Como você vê a questão do desmatamento das florestas tropicais brasileiras? Como reverter a situação?

A questão das florestas brasileiras é bastante complexa. De certa forma, pode-se dizer que reflete a forma de ocupação e uso da terra no país. E reflete também o tipo de sociedade que estamos produzindo. Por exemplo, a Mata Atlântica, que enfrenta um problema específico e particular da região litorânea brasileira. Nesta tipologia florestal, desmata-se para a criação de condomínios e casas de veraneio particulares. Sou contra este tipo de apropriação dos recursos naturais, pois a Constituição Federal determina que é um bem social, comum a todos. Também sou contra o tipo de ocupação e uso do território amazônico, onde se privilegia o homem e as culturas agropecuárias do centro-oeste. Sou a favor de um modelo de ocupação amazônica onde se leva em conta a população indígena-ribeirinha e a sua cultura tradicional. O cerrado também sofre com a ocupação interiorana promovida desde o governo do Presidente Juscelino Kubitschek. As siderúrgicas (a produção de aço é baseada no carvão vegetal) e o avanço da soja são as principais ameaças ao cerrado brasileiro. E isto não significa riqueza ou melhoria da qualidade de vida para os semi-escravos das carvoarias. Pelo contrário, significa trabalho infantil. Não quero dizer de nenhuma forma que sou contra o desenvolvimento e o progresso da nação, mas gostaria que este desenvolvimento fosse sustentável, de forma racional, sem exaurir os recursos naturais e humanos.

Na questão ambiental, como o Brasil se posiciona perante o resto do mundo?

Temos que analisar isto temporalmente. A questão ambiental no Brasil é muito recente, temos no máximo 40 anos de história ambiental. Isto é muito pouco se comparado com Canadá, Estados Unidos, Espanha e Finlândia, que possuem mais de dois séculos, por exemplo. Na última década, esta questão foi tratada com mais seriedade no Brasil. As empresas públicas e privadas têm investido mais na área ambiental, pois nossa legislação ambiental é muito desenvolvida e rigorosa. Mas ainda não desenvolvemos mecanismos e órgãos eficazes de cumprimento da lei. É neste momento que a participação da sociedade civil organizada (ONG) é fundamental, pois preenche a lacuna deixada pelos órgãos governamentais.

Como é a relação do engenheiro florestal com outros profissionais também ligados ao meio ambiente, como biólogos, geólogos, agrônomos? Há colaboração ou pontos de atrito em relação a alguns assuntos?

A relação com as demais profissões é cordial e complementar. Temos certeza, enquanto engenheiros florestais, que ocupamos um determinado nicho específico porque temos uma determinada formação. Sabemos que em determinados assuntos é preciso ter um outro perfil profissional e aí procuramos trabalhar em sincronia, complementando um o conhecimento que o outro possui. O que não é possível é um engenheiro civil ou médico desempenhando um papel ambiental.

O estudante de Engenharia Florestal deve ter alguma habilidade específica?

Não, só disponibilidade pessoal para viajar.



Qual o conselho que você daria para o estudante de Engenharia Florestal?

Eu daria um conselho para todos os estudantes! Utilizem este tempo para crescimento pessoal, para se tornar um cidadão melhor, mais antenado com as necessidades do mundo. Para um estudante de engenharia florestal, eu diria que se prepare para muitas responsabilidades e cobranças, pois vocês estarão cuidando de coisas belas, cada vez mais raras. Uma boa sorte e quem sabe ainda trabalharemos juntos!



compartilhe em: Twitter Facebook Windows Live del.icio.us Digg StumbleUpon Google

EDUCA

O seu portal de ensino online.

CONTATO

4002-3131

regiões metropolitanas

08002830649

demais regiões