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O antropólogo Gilberto Velho fala sobre o papel da Antropologia na sociedade moderna

Gilberto Velho | Antropólogo

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O professor carioca Gilberto Velho é um dos mais conceituados antropólogos do Brasil.

Gilberto Velho formou-se em 1968 em Ciências Sociais no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Obteve o título de mestre em 1970, em Antropologia Social no Museu Nacional, com a tese "Utopia Urbana", um estudo sobre as camadas médias brasileiras. Na época, a maioria dos antropólogos estudava grupos indígenas e camponeses. Ou então, populações mais pobres ou afastadas do universo social do investigador, como a favela.

O doutorado, também em Antropologia Social, foi completado em 1975 na Universidade de São Paulo. O professor também estudou no Departamento de Antropologia da Universidade do Texas, em Austin, em 1971. Desde então, ele orientou dissertações de mestrado e  teses de doutoramento.

Além de "Utopia Urbana", Gilberto Velho também marcou o debate intelectual no Brasil com os livros "Individualismo e Cultura", "Projeto e Metamorfose" e "Nobres & Anjos: um estudo de tóxicos e hierarquia". Também organizou as coletâneas "Desvio e Divergência" e "Antropologia Urbana". Veja a entrevista do antropólogo. 

Por que você escolheu estudar Antropologia?

Sempre tive interesse em Ciências Humanas. Desde o curso secundário no colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fui muito influenciado por excelentes professores de História, Geografia , Línguas e Literatura. Meu pai, por sua vez, era um militar com amplos interesses culturais, uma biblioteca rica em Ciências Humanas, sempre se constituindo em forte estímulo. Meu irmão também é cientista social de bastante destaque. A escolha específica por Antropologia deve-se, creio, sobretudo, a uma possibilidade mais aguda de perceber o que sustenta o cotidiano, o que está por trás do dia a dia e do senso comum. A comparação com outras sociedades e culturas é o instrumento fundamental para esse estranhamento. Trata-se de procurar ir além das aparências, buscando motivações e raízes mais profundas dos comportamentos.

Qual a relação da Antropologia com as outras disciplinas da área de Humanas?

No meu caso particularmente, a Antropologia destaca-se como interlocutora fundamental das disciplinas que estudam os indivíduos, suas particularidades e variedades. Assim, a temática ampla "indivíduo e sociedade" foi a que sempre mais me atraiu. Por outro lado, há uma permanente tensão e atenção para o que pode ser universal e para o que é diferenciado, particular. O trabalho de campo e observação participante também permitem a produção de um tipo de conhecimento que chamamos de "qualitativo", que permite lidar com problemas dificilmente captáveis por métodos estatísticos e aplicação de questionários.

Quais devem ser as principais qualidades de um Antropólogo?

Há várias maneiras de fazer Antropologia. São muitos os temas, focos de interesse e possibilidades. Fundamentalmente é necessário não só uma vocação para o estudo sistemático e contínuo, como uma certa capacidade de desenvolver empatia pelas pessoas em geral. É importante procurar manter abertura para diversas áreas do conhecimento, pois a Antropologia é uma disciplina muito ampla e seu desenvolvimento só é possível através de um equilíbrio entre o seu fortalecimento específico e a sua capacidade de desenvolver um diálogo interdisciplinar, com a História, a Sociologia, a Filosofia, a Psicologia, a Ciência Política, a Literatura etc.

Qual a importância da Antropologia para a sociedade? Qual a sua atualidade?

A Antropologia estuda os mais diferentes grupos e categorias sociais, suas relações e transformações. Assim sendo, tem como projeto o maior conhecimento das diferentes sociedades e culturas. É evidente que o conhecimento produzido pela pesquisa básica pode e é constantemente difundido por diferentes caminhos para a própria sociedade. Pode haver o uso deliberado e sistemático por parte de atores sociais específicos como ONGs, agências governamentais, poder público em geral ou, simplesmente, produzir-se uma difusão de noções, descobertas e percepções do trabalho antropológico. No caso do Brasil, posso citar, entre várias possibilidades, a importante produção antropológica sobre família e parentesco, gênero, grupos indígenas, minorias étnicas e sociais em geral, violência e criminalidade, vida urbana, culturas populares e suas relações com outros níveis de cultura, religião etc.

Como era o mercado de trabalho na época em que você se formou e como está hoje?

O mercado de trabalho para os antropólogos está principalmente ligado às universidades e institutos de pesquisa. Na medida em que o ensino superior se expandiu, aumentaram muito as possibilidades de atividades docentes. As atividades de pesquisa estão mais limitadas às instituições de ensino público, aos museus, a algumas agências governamentais e, atualmente, aparecem mais possibilidades no universo das ONGs, e, embora, em poucos casos, em algumas empresas. Não é um tipo de trabalho para quem tem como seu principal objetivo ficar rico, mas oferece possibilidades interessantes para conhecer melhor o mundo e, com sorte, para um aperfeiçoamento pessoal.

Quais as questões mais discutidas hoje pela Antropologia?

São de número quase infinito. Qualquer tema ou questão na área sociocultural pode ser objeto do trabalho antropológico. Além dos já mencionados acima, não há dúvida de que a questão das identidades, em todos os níveis, constitui fonte ampla e rica de pesquisa. As relações entre gêneros, gerações, minorias, dominados e dominadores, o fenômeno da globalização e as diferentes reações e leituras por ele provocadas, certamente constituem-se em problemáticas estimulantes e férteis. No entanto os temas são inesgotáveis e estão sempre se multiplicando.



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