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Engenharia de Alimentos: uma profissão em expansão

Ana Luiza Mattos Braga | Engenharia de Alimentos

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Ana Luiza Mattos Braga tem 30 anos. Meses antes de completar 18, ingressou na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em São Paulo.  Foi um ano antes de fazer a prova do vestibular, num estágio do “Programa de Vocação Científica”, na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), no RJ, que ela percebeu que gostaria de trabalhar em um laboratório. O propósito deste programa era fazer com que o aluno conhecesse um pouco da carreira científica antes de entrar na universidade. Hoje, Ana Luiza trabalha como pesquisadora no Product Technology Centre da Nestlé em Konolfingen, na Suíça. Nessa entrevista, você aprenderá bastante sobre essa Engenharia ainda pouco conhecida e sobre a trajetória e opiniões de Ana Luiza.

Um breve resumo de sua formação e carreira

Em 1995 ingressei no ensino superior na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em São Paulo. Entre 1997 e 1999, realizei três estágios em laboratórios da própria faculdade, e decidi seguir a carreira científica. Nas férias de 1999 estagiei na Indústria Granfino - RJ, cumprindo a obrigatoriedade da grade curricular do curso.

Fiz mestrado e doutorado. Uma parte da tese de doutorado foi desenvolvida no Federal Institute of Technology (ETHZ) em Zurique na Suíça. Este programa de intercâmbio foi financiado pelo governo brasileiro. Quatro meses depois de defender a tese de doutorado, fui contratada como pesquisadora no Product Technology Centre da Nestlé em Konolfingen, Suíça, onde me encontro até hoje. Trabalho com microencapsulação de ingredientes bioativos, sendo responsável pela pesquisa e desenvolvimento de novas microcápsulas e também pela aplicação de microcápsulas comerciais em produtos Nestlé.

De onde surgiu a descoberta e interesse pela profissão de Engenharia de Alimentos?

Na escola eu adorava as matérias de Matemática, Química e Física, o que me fez decidir a cursar Engenharia. No entanto, a dificuldade foi escolher qual especialidade. Por gostar também de Geografia e História, procurei me informar qual Engenharia seria mais "humanizada". Comprei o "Guia do Estudante", que foi fundamental na minha escolha. Este guia tinha a descrição de diversas engenharias, inclusive algumas não muito difundidas na época no RJ, como a de alimentos e a florestal.

Assim, me decidi por fazer o vestibular para Engenharia de Produção na UFRJ, Engenharia Química nas demais faculdades públicas do RJ e Engenharia de Alimentos na UNICAMP. Ou seja, escolhi algumas engenharias, mas sem ter a exata certeza de qual gostaria de cursar. Mas, como a base de todos os cursos de engenharia é muito semelhante poderia pedir transferência de um curso para outro sem grandes problemas de repetir matérias. Cabe ressaltar, que apenas depois de estar cursando a faculdade, é que comecei realmente a entender do que se tratava o curso de Engenharia de Alimentos. Felizmente, hoje posso dizer que fiz a escolha certa.

Qual a base da formação do Engenheiro de Alimentos?

Esta é uma carreira multidisciplinar. Em geral, as Faculdades de Engenharia de Alimentos apresentam dois anos de matérias básicas de engenharia, ou seja, Matemática, Física e Química (orgânica e inorgânica). Nestes dois primeiros anos, os cursos são dados por professores das respectivas faculdades de ciências exatas e não da faculdade de engenharia. Os demais três anos são ministrados por professores da faculdade de engenharia de alimentos. Confira:

- Ciência de alimentos durante 1 ano: microbiologia de alimentos, bioquímica de alimentos e química de alimentos. Nestas matérias são ensinadas as reações que ocorrem dentro de um alimento, dependendo do processo que este passe. Além disto, aprendem-se as famílias de microorganismos que podem estar presentes em um alimento e como destruir os microorganismos malignos à saúde.

- Engenharia de alimentos durante 2 anos: reologia e resistência de materiais, fenômenos de transporte de calor e massa, Operações I, II e III (Transferência de movimento, calor e massa), refrigeração, projetos e instalações industriais.  Nestas matérias se aprende a dimensionar uma fábrica, calculando as distâncias de tubulação, tamanhos de equipamentos, consumo de energia, etc. Além disto, são ensinados os princípios básicos de funcionamento de cada tipo de equipamentos, ex. secadores, fermentadores e extrusoras.

- Tecnologia de alimentos durante 1 ano: panificação, leites e derivados, carnes e derivados, frutas e hortaliças, produtos açucarados, óleos, pescados e bebidas. Nestas matérias são ensinadas as etapas de produção de cada tipo de produto relacionado.

- Outras matérias no currículo são, por exemplo: desenho técnico, embalagens, análise sensorial, nutrição, estatística e Higiene durante 1 semestre.


O que faz um Engenheiro de Alimentos?

O Engenheiro de Alimentos trabalha com a industrialização de produtos alimentícios desde a lavoura até a gôndola dos supermercados. Dentro desta cadeia, algumas áreas de atuação são destacadas abaixo. Além do trabalho na indústria, pode também seguir a carreira acadêmica, tornando-se professor / pesquisador em faculdades públicas ou particulares.

· Produção. Atuação nas diversas etapas do processo para garantir um aumento de produtividade/redução constante de custos em produtos tradicionais bem como em novos produtos.
· Garantia de Qualidade. Determinação dos padrões de qualidade para cada etapa do processo de um produto, incluindo o treinamento de pessoal para prática da qualidade como rotina operacional.
· Pesquisa e Desenvolvimento. Desenvolvimento de produtos e tecnologias com objetivo de atingir novos mercados.
· Projetos. Planejamento, execução e implantação de projetos de fábricas, bem como seu estudo de viabilidade econômica.
· Comercial / Marketing. Utilização do conhecimento técnico das matérias-prima ou equipamentos como diferencial de marketing e na assistência técnica a clientes.
· Legislação de Alimentos. Atuação junto aos órgãos públicos, objetivando o estabelecimento de padrões de qualidade que garantam a saúde do consumidor.
· Embalagens. Pesquisa e desenvolvimento de novas embalagens.

Como anda o mercado brasileiro para estes profissionais?

No Brasil existem grandes empresas nacionais e multinacionais no ramo de alimentos. Cada vez mais se observa a contratação de engenheiros de alimentos ao invés de engenheiros químicos nestas. Isto se deve à complexidade do alimento e de seu processo, sendo melhor ter um funcionário que tem uma visão mais ampla dos cuidados necessários ao se processar um alimento, que é um material biológico e não somente químico (ex: microbiologia, reações e microestrutura/textura). Diria que não se observa mais o índice de 100% dos estudantes se formando com uma oferta de emprego como há dez anos. Mas isto é uma tendência natural com o aumento do número de faculdades oferecendo este curso. Segundo o coordenador do curso de Engenharia de Alimentos da UNICAMP, Marcelo Alexandre Prado, nos últimos 20 anos, o número de faculdades subiu de 7 para mais de 50.

Um mercado em crescimento é o de supermercados, não só no Brasil como também na Europa. Cada vez mais encontramos supermercados vendendo produtos industrializados com suas próprias marcas. E nestes, o engenheiro de alimentos começa a ter não só uma função ligada à logística, mas também como chefe de produção nas maiores cadeias. Empresas de consultoria também têm oferecido vagas para engenheiros de alimentos, visto a terceirização de diversos serviços principalmente na área de otimização de processos/implementação de programas de gestão.

Nos últimos dez anos, observou-se a abertura ou deslocamento de várias empresas para as regiões centro-oeste e nordeste, criando oportunidades de trabalho nestas regiões. Observa-se também uma relativa concentração de empresas nos estados de Minas Gerais, São Paulo e na região sul do país.

Para quem segue a carreira de pesquisa ou acadêmica, existem basicamente três tipos de empregos. No Brasil, as empresas absorvem para o seu quadro de pesquisadores pessoas sem pós-graduação, que serão em sua grande maioria responsáveis por adaptação de produtos desenvolvidos fora do país. Entre os cientistas é feita uma distinção entre pesquisa básica e desenvolvimento de produtos. A pesquisa básica procura entender reações moleculares e o impacto destas nas características do produto e na percepção do alimento pelo consumidor. O pesquisador responsável pelo desenvolvimento de um produto utiliza os diversos estudos básicos para formular um produto, considerando também os fatores de processo.

Uma outra opção dentro da pesquisa é fazer um curso de pós-graduação (mestrado e doutorado). Neste caso oportunidades de emprego se abrem como professor/pesquisador em faculdades/institutos públicas ou como professor em faculdades particulares. O que ainda falta no país é a possibilidade de uma pessoa com grau de doutoramento trabalhar em pesquisa básica em empresas. De uma forma geral, este tipo de emprego pode ser encontrado na Europa ou nos EUA para um engenheiro de alimentos.

Onde estão as melhores oportunidades?

Esta é uma pergunta difícil de ser respondida visto o caráter pessoal do significado de "melhor oportunidade". Em minha opinião uma boa oportunidade depende mais do que você gosta de fazer do que do salário ou do quanto rápido se sobe no organograma de uma empresa. Para mim o melhor seria a pessoa poder dizer que o seu trabalho é também um momento de diversão e aliar isto a um lugar onde gosta de morar. No meu caso, até então, a melhor oportunidade se apresentou na Europa, visto que no Brasil a pesquisa básica é feita apenas em universidades ou instituições públicas. Assim, é necessária que uma vaga no setor público seja aberta concomitantemente com o seu término do doutorado e ainda em um lugar onde você gostaria de morar. Acredito que para quem não segue o caminho científico o número de oportunidades seja maior, mas como disse antes, não necessariamente melhor.

Quais cursos que ajudam no desenvolvimento e no amadurecimento dos conhecimentos?

O melhor curso é o da faculdade e a melhor dica é: vá às aulas, faça os exercícios e tire as suas dúvidas com os monitores e os professores. Todo curso de engenharia é bastante intenso na carga horária, não restando muito tempo para fazer cursos paralelos. No entanto, a participação em congressos é interessante para adquirir uma visão mais ampla das áreas de atuação do engenheiro de alimentos. Considero imprescindível para o amadurecimento e uma boa formação que o aluno faça o maior tempo possível de estágios, seja este dentro ou fora da faculdade. A participação em associações estudantis também é bastante interessante para uma melhor visão de mercado.

Que dicas deixaria aos interessados?

A UNICAMP, por exemplo, tem um programa intitulado "Universidade de portas abertas", organizado para que os alunos do 2º e 3º anos do ensino médio entrem em contato com alunos e professores universitários. Nestas visitas às faculdades os alunos podem ter uma idéia mais real do que esperar no curso que pretende se candidatar. Além disto, conversar com recém-formados fornece uma idéia do mercado de trabalho, podendo passar ao candidato uma melhor visão do que ele irá encontrar nos próximos 4-5 anos da sua vida escolar.

Na hora de escolher a faculdade, o estudante deve observar se a instituição tem bons laboratórios e um currículo prático, além do corpo docente qualificado. Eu considero as aulas práticas vitais para um bom entendimento da engenharia de alimentos.

Por fim, procurar ter claro em mente antes de se inscrever no vestibular que as funções de um engenheiro de alimentos e de um nutricionista são completamente diferentes. O engenheiro até pode cursar algumas disciplinas de nutrição na faculdade, porém sua formação leva em conta tecnologias, máquinas, logísticas. Já a nutrição está mais preocupada com as reações do alimento com o organismo.



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