Psicóloga formada há oito anos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Isabela do Espírito Santo se especializou no tratamento de usuários de álcool e drogas. E nesse tempo de profissão, Isabela pôde auxiliar a novelista Glória Perez no treinamento e preparação dos atores que representariam jovens envolvidos com drogas, na novela O Clone, em 2000.
Atualmente, a psicóloga se reveza no atendimento em seu consultório particular e no cargo de diretora da Clínica da Saúde PSI, um local especializado em atendimento ambulatorial a usuários de álcool e drogas e seus familiares, no Rio de Janeiro. E ainda compõe a banca examinadora e entrevistadora do concurso público realizado para selecionar Agentes Comunitários de Saúde. Mesmo com o cotidiano difícil, Isabela consegue separar o trabalho da vida pessoal e não absorver tanto os problemas de seus pacientes.
Para quem pretende seguir os mesmos passos e concorrer a uma vaga em psicologia no vestibular, Isabela diz que jovem deve saber ouvir e não ter a pretensão de ser o dono da verdade. Mesmo o estudante universitário, não deve ter pressa de se formar. A psicóloga recomenda que o estudante faça muitos estágios e tire o máximo proveito de cada um deles, porque com o diploma nas mãos a exigência é muito maior.
O que te levou a escolher psicologia como profissão?
Desde muito cedo gostava de ouvir e participar das conversas de pessoas mais velhas. Sempre gostei de observar as pessoas e ouvir suas histórias e acontecimentos interessantes. Na época de fazer a escolha profissional não tive dúvidas, apenas procurei saber a diferença entre psicologia e psiquiatria. Tinha enorme curiosidade em conhecer de perto as clínicas e hospitais psiquiátricos.
Você tem alguma especialidade?
A minha especialidade é o tratamento de usuários de álcool e drogas.
Uma característica importante para um profissional dessa área é saber ouvir, uma tarefa nobre e complicada. Esse profissional tem que ter disponibilidade interna para ouvir e perguntar. Diferente do que se imagina, um bom atendimento é aquele em que o profissional conduz formulando perguntas pertinentes ao assunto trazido pelo próprio paciente. O bom profissional não é aquele que sabe o que dizer, mas aquele que sabe o que perguntar. Para trabalhar nessa área, é necessário, portanto, se deixar surpreender, pois o ser humano é uma caixinha de surpresas e nenhum profissional deve pretender ser o dono da verdade.
Como é o trabalho de um psicólogo?
São vários os trabalhos possíveis de um psicólogo. Existem três áreas de atuação: a clínica, a escolar e a do trabalho em empresas. Cada uma dessas áreas abrange diferentes funções e possibilidades de atuação do psicólogo. Dentro de cada área também existe uma grande diversidade de correntes que se distinguem pela concepção do funcionamento mental. Exemplos: Psicanálise, Cognitivo/comportamental, Humanista, Sistêmica, Gestalt, etc. Independente do campo de atuação, o psicólogo é sempre um profissional que recebe do paciente queixas, situações difíceis ou impasses, e realiza intervenções e/ ou encaminhamentos pertinentes ao problema em questão.
O que você considera como sua maior realização profissional?
Minha maior realização profissional é acompanhar a melhora significativa dos pacientes no decorrer do tratamento. É muito sofrido, por exemplo, o processo de recuperação de usuários de álcool e/ou drogas; ao mesmo tempo é muito bonito acompanhar a mudança na vida deles e consequentemente na de seus familiares. Guardo comigo belas histórias...
Que tipos de problemas ou angústias existem na sua profissão?
Essa é uma profissão que traz muita angústia especialmente no início, pois há todo um anseio por resultados positivos. Porém, o trabalho do psicólogo só surte efeitos se o cliente (paciente, empresa, aluno, seja quem for) se dispuser a trabalhar e reconhecer suas implicações na situação apresentada. Muitas vezes o profissional se vê impotente diante de alguma situação, mas com o tempo vai aprendendo a lidar melhor com isso. Com o amadurecimento profissional, o psicólogo vai conseguindo trabalhar sem se envolver ou absorver tanto os problemas e as questões que ouve diariamente.
Psicologia é um ramo valorizado no Brasil?
Tenho percebido uma valorização maior dessa profissão muito recentemente. O psicólogo começa a ser visto como parte integrante e importante da área de saúde. Mas, ainda vemos e carregamos uma imagem distorcida da profissão; os filmes, os meios de comunicação e a população de uma maneira geral ainda se referem à psicologia banalizando o trabalho. Penso, no entanto, que os próprios psicólogos é que vão poder, através dos trabalhos realizados com seriedade, construir uma nova visão para a profissão.
Qual a dificuldade de um recém-formado para entrar no mercado de trabalho?
As dificuldades para os recém-formados são semelhantes às de outras profissões, ou seja, ninguém ainda te conhece, o mercado nada sabe sobre você e seu trabalho. Isso é complicado porque as pessoas normalmente vão a um psicólogo através de alguma indicação. As instituições e as empresas também costumam selecionar profissionais experientes.
Que dicas você dá para quem está ingressando na faculdade e quer seguir sua área?
A dica que eu posso dar é para que o estudante não tenha pressa em se formar logo, aproveite ao máximo o vínculo com a faculdade. Faça todos os estágios possíveis, tente passar por várias clínicas, empresas e instituições, pois esta é a época de aprender sem medo de errar. Nos lugares em que você mais se identificar invista realmente no trabalho, desenvolva projetos, etc. Não fique limitado ao número de horas de estágio exigido pela faculdade, pois é muito mais fácil entrar numa instituição como estagiário – principalmente quando não é remunerado – do que como profissional. Aproveite o tempo de faculdade para fazer contatos, pesquisar, aprender, errar... Com o diploma na mão a exigência é muito maior!
Ozana Hannesch
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