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Dom Anselmo fala sobre o recolhimento e a introspecção da vida monástica

Dom Anselmo | Monge e sacerdote

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A escolha pela vida monástica não é uma decisão que possa ser equiparada à da opção por uma profissão no sentido liberal do termo. Se você quer ser engenheiro, médico ou dentista, não precisará mudar drasticamente nenhum hábito de sua vida pessoal. O mesmo não se dá num mosteiro. Quando Dom Anselmo Chagas de Paiva decidiu que queria ser monge e sacerdote do Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, estava na verdade dando início a toda uma mudança de estilo de vida.

Aos 25 anos, Dom Anselmo terminava dois cursos de graduação na PUC-RJ - História e Psicologia - e trabalhava como subgerente de uma agência do Banco Real. Tinha uma vida mais agitada, cheia de tarefas e muita liberdade para viajar. Apesar dessa rotina aparentemente normal, ele sentiu que gostaria de fazer uma experiência religiosa. Nascido numa família mineira muito católica, Dom Anselmo já estava acostumado com a prática religiosa desde a mais tenra idade.

Quando e como o senhor sentiu necessidade de tornar-se padre?

Meus pais sempre foram muito religiosos e eu acabei herdando deles a prática espiritual, que foi muito benéfica para a minha formação como monge. Quando eu manifestei que queria fazer uma experiência religiosa, recebi apoio de meus pais. Venho de uma família numerosa, de oito irmãos, e portanto minha escolha foi bem aceita na família. Quando o casal tem apenas dois filhos e um deles manifesta desejo pela vida religiosa, geralmente os pais lhe dizem para pensar melhor. Comigo não foi assim. Minha escolha foi prontamente aceita. Quando estudava na PUC, comecei a participar de grupos de jovens. Um dia fizemos uma visita ao Mosteiro de São Bento. Fiquei muito interessado no estilo de vida do convento.

Como é o estilo de vida do mosteiro?

Muito diferente do que eu tinha anteriormente, como subgerente de um banco. Aqui ficamos mais limitados, temos que ser obedientes aos superiores e vivemos mais recolhidos. O recolhimento é um pré-requisito para o contato com Deus através da oração. Uma das principais características da vida monástica é a convivência com uma comunidade estável. Temos uma vida comunitária muito forte, reunimo-nos cinco vezes por dia para rezar em comum. "Convenire" quer dizer viver em conjunto, daí a expressão convento. O monge é aquele vive sozinho para se encontrar com Deus, tanto que os mosteiros são construídos longe das cidades, afastados do turbilhão. O elemento fundante da vida monástica é a introspecção, mas uma introspecção que visa a uma transcendência.

Como é a fase de adaptação à vida monástica?

A primeira fase é a do postulantado, quando a pessoa passa por um período de um ano de experiência. Quem entra nesta etapa é chamado de postulante e pode sair do mosteiro sempre que quiser. É necessário que ele tenha, pelo menos, completado o ensino médio. A segunda fase é a do Noviciado, que duram dois anos. Nessa etapa, ainda não há um laço jurídico, mas exige-se uma carta do postulante pedindo para entrar no noviciado. Aprende-se então a Regra de São Bento, para conhecer a ordem que ele quer abraçar. Há orações frequentes, individuais e comunitárias. Na terceira etapa, a Profissão Temporária ou Trienal, ele tem mais três anos para pensar se realmente quer ser monge. Durante esse tempo, estuda na faculdade de Filosofia que temos aqui.

Quando ele começa a estudar Teologia e se compromete com o mosteiro?

Na quarta fase, chamada Profissão Solene ou Perpétua. É neste momento que ele faz os votos de castidade, pobreza, obediência e estabilidade no mosteiro. Passa a ser um membro pleno da comunidade, com direito a voz ativa nos capítulos internos (reuniões internas). Ele pode, por exemplo, participar da eleição do abade. Nesta fase, que dura quatro anos, ele faz o curso de Teologia.

Por que a Teologia só é estudada na última etapa, depois que ele já está há seis anos no mosteiro?

Porque a atividade religiosa é mais importante do que a intelectual. Em primeiro lugar, o postulante deve ter contato com a espiritualidade e com a herança da casa. Só num segundo momento é que ele vai estudar Filosofia e Teologia. Há também a possibilidade de ele não querer continuar os estudos. Neste caso, poderá ser monge, mas não sacerdote.

Qual a importância da Filosofia para a vida no mosteiro?

Ela ajuda a pensar, a compreender os mistérios da fé. A Filosofia nos dá um conjunto de elementos conceituais que nos ajuda a entender a fé. Santo Tomás de Aquino é um caso exemplar. Ele recebeu todo o conteúdo filosófico de Aristóteles e o aplicou na Teologia, criando a "Suma Teológica", que é o estudo básico da Teologia.

Quais as recompensas da sua escolha?

A alegria interior, a satisfação consigo mesmo. Basicamente, frutos espirituais. Através dos conselhos, também posso ajudar as pessoas que nos procuram e estão em dificuldade. Também ajuda os alunos a terem uma formação humana.

Quais as diferenças entre escolher ser padre e escolher uma profissão liberal?

Em primeiro lugar, não há um salário. Não recebemos dinheiro por nossa atividade. É um dom gratuito. Além disso, a nossa motivação é de ordem sobrenatural. Acreditamos que Deus quer que a vida monástica exista, Deus quer que assim seja. E uma prova disso é que a ordem monástica existe ininterruptamente há 1500 anos. O Papa Paulo VI amava a vida beneditina. Ele acreditava que a vida contemplativa era fundamental para a vida própria Igreja.

Qualquer pessoa pode estudar na Escola Teológica do Mosteiro de São Bento?

A princípio sim, mas como a escola é pequena e a procura vem aumentando muito, vamos ter que dar prioridade àqueles que queiram ser padres. O curso é bem barato.

Quais as principais matérias do curso?

Uma das matérias mais importantes é Elementos Fundamentais do Mistério da Fé, que é uma introdução ao curso. Depois, temos Estudo de Deus Uno e Trino, Cristologia, que estuda Jesus Cristo como Deus e homem e Igresiologia, que trata da Igreja como instituição divino-humana, fundada por Jesus Cristo e continuadora da obra de Jesus Cristo.

Nossas atividades diárias são desempenhadas dentro do mosteiro. Eu, por exemplo, dou aula de Religião no Colégio de São Bento e de Teologia na Faculdade de Teologia. Saímos muito pouco.



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