Apesar da crise, o mercado de luxo está sempre em renovação e com vendas crescentes. O design de jóias está inserido nesta realidade e hoje oferece ótimas oportunidades no exterior para os brasileiros. Conversamos com Engracia Costa para entender melhor a área.
Engracia trabalha no desenvolvimento de coleções de Jóias, projetando para empresas do ramo, bem como capacitando e formando novos profissionais interessados neste campo do design. Possui também uma coleção própria de jóias em prata. Em 2007, assumiu a Diretoria de Design da Associação dos Joalheiros do Estado de São Paulo. Faz parte da ADOR, Associazione Designers Orafi de Milão, Itália, desde 1993. É Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Anhembi Morumbi, onde responde pelas disciplinas de Fundamentos do Design.
Atualmente coordena nesta Universidade o lançamento de um curso de Tecnologia em Design de Jóias. O ponto de partida foi a graduação em Design de Produto e Programação Visual pela ESDI, Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ e o bacharelado em Comunicação Social, Publicidade e Relações Públicas pela Universidade Estácio de Sá. A partir daí, buscou especialização em joalheria, realizando cursos de ourivesaria básica, modelagem em cera e gemologia.
O que faz uma designer de jóias?
Até bem pouco tempo entendia-se design de jóias como criação artística. Hoje, este campo do design ganhou uma dimensão diferente. Mais do que criar, o designer tem a função de posicionar sua criação em relação ao mercado, o que envolve conhecimentos de todos os parâmetros da produção.
Por exemplo, cabe ao designer o estudo das tendências de comportamento como os usos, os costumes, os hábitos de grupos que se unem por afinidades, delineando suas necessidades. Tanto na joalheria artesanal como na de produção seriada, industrial, o design de jóias é elemento de diferenciação entre grupos. Importante lembrar que quando falamos em design de jóias, estamos falando de jóias em materiais preciosos, mas também da criação relacionada a segmentos afins à joalheria como o de folheados e o de bijuterias.
Quais os principais desafios da profissão?
Enfrentamos o desafio do mercado, extremamente competitivo, tanto no Brasil como no exterior. Mas, talvez hoje o maior desafio seja o trabalho com as empresas, o designer como colaborador. O desafio consiste em, como profissional, ter informações suficientes para lidar com todos os elementos do projeto de design que estão envolvidos nesse processo.
Além das considerações estéticas, temos que saber situar essas criações em relação ao público. Traduzir o saber artesanal da joalheira para o da criação com parâmetros de mercado. O designer de jóias deve saber fazer essa ponte entre dois universos distintos que se inter-relacionam na criação artística, mas que se diferenciam no processo criativo.
Bom designer é necessariamente um bom designer de jóias?
As disciplinas dos cursos de design, como um todo, são fundamentais para que um designer consiga atuar em qualquer área do mercado profissional, mas cada uma delas precisa ser entendida dentro de suas especificidades. Disciplinas que são a base da formação do designer, como metodologia de projeto, por exemplo.
Embora a joalheria seja um campo riquíssimo em referências culturais e históricas, o design da jóia contemporânea deve ser capaz de refletir a linguagem do nosso tempo. Essa percepção é, na verdade, a essência do trabalho do designer. Um conhecimento obtido pelo treinamento do olhar e pelo exercício de pensar o objeto dentro de diferentes contextos.
Naturalmente, disciplinas específicas do campo da joalheria ampliam a formação de um designer de jóias. E elas são fundamentais para atuar no setor.
Como está o mercado nacional? E como os brasileiros são vistos no exterior?
No Brasil o design de jóias vem conquistando espaços, mas ainda há algum trabalho a ser feito junto aos empresários, porque nossa profissão pode ainda ser considerada recente e muitos desconhecem o que pode oferecer este profissional à sua empresa.
Internacionalmente, os brasileiros estão ocupando um lugar de destaque na joalheria e isso vem acontecendo desde que nossos profissionais começaram a participar de eventos internacionais, como exposições, feiras e, especialmente, concursos. Mas hoje o design brasileiro se destaca pela inovação na combinação de materiais e especialmente no colorido de nossas gemas e nas formas que têm a ver com nosso modo de ser e viver. Formas e cores características do Brasil parecem movimentar a joalheria tradicional. Um universo que atrai públicos de diferentes culturas, talvez por conter em suas linhas nossa própria diversidade cultural.
Que cursos podem ajudar na formação de um designer de jóias?
Há muitos cursos livres de joalheria artesanal e já alguns com formação acadêmica, de extensão, graduação e pós-graduação. Cada um deles tem um enfoque, uma abordagem. Cabe ao interessado procurar conhecer o projeto acadêmico de cada um e procurar aquele que mais se identificar. Mas é importante que o profissional que queira se dedicar à área de jóias busque o máximo possível de informações, porque essa é a base do nosso trabalho.
Design se faz dentro de contextos, tanto cultural, como histórico e econômico, entre outros; e a percepção deles define o repertório profissional de cada um. Essa bagagem cultural é que nos possibilita atuar como criadores.
Ozana Hannesch
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