Seu nome é Sueli Guerra e ela vive da arte, especialmente da Dança. Não só como bailarina, mas como professora de dança, de corpo e expressão corporal, como diretora de movimento, preparadora corporal e coreógrafa de peças de teatro.
Faz o que gosta, mas batalha muito para isto. Conta, nesta entrevista, o que mudou na profissão depois que o Curso de Dança foi para a Universidade.
Faça um breve resumo de sua formação e carreira.
Comecei minha carreira como bailarina clássica e estudei na Escola estadual de Danças e no Ballet Dalal Achcar. Mais tarde, ampliei meus estudos para dança moderna e jazz e também estudei teatro.
Comecei a trabalhar profissionalmente em 1980, dançando em companhias e fazendo trabalhos de dança na TV Globo. Naquela época, a Rede Globo tinha um corpo de baile e uma orquestra contratados e quase todos os programas tinham números musicais.
Dancei em companhias como o Ballet do Terceiro Mundo, Cia. Aérea de Dança e Renato Vieira Cia. de Dança (entre outras). Fiz muitas viagens para o exterior com trabalhos brasileiros e alguns trabalhos com o Washington Ballet. Aos poucos, fui somando à minha carreira algumas experiências com o teatro e hoje trabalho bastante como diretora de movimento, preparadora corporal e coreógrafa.
As viagens e os trabalhos acabaram adiando o meu projeto de cursar a faculdade de dança que concluí, só no ano passado, em 2004, pela UniverCidade, no Rio de Janeiro.
Na época do vestibular você teve dúvidas na escolha? Sofreu alguma influência para escolher a dança como profissão?
Não tive nenhuma dúvida quanto à escolha no vestibular, até porque eu já trabalhava, e muito, como profissional da área. Esta formação universitária em dança está bem mais solidificada agora, o que é muito bom. Quanto à escolha como profissão, não tive dúvidas, só muito apoio da família, afinal comecei muito cedo.
A prova de seleção para o vestibular inclui habilidade específica? Quantos anos de dança são necessários para enfrentar a seleção? Qual a melhor idade para começar? Que danças envolvem?
Existe uma prova de habilidade específica para o vestibular em dança. O ideal é que o aluno já tenha passado pela experiência de dançar em academias especializadas e tenha um mínimo de tempo de dança, para que ele possa aproveitar melhor o curso.
Na faculdade, ele terá aulas de ballet do primeiro ao último período, terá aulas de dança moderna, contemporânea e jazz e opcionais como danças brasileiras, sapateado e flamenco e técnicas corporais como Alexander e consciência.
Estudará ainda anatomia, cinesiologia e fisiologia, além de história da arte e da dança, e claro, didática. Não acho que tenha uma idade ideal para licenciatura em dança, talvez tenha para ser bailarino clássico...mas de outras danças ou professor? Acho que não!
A carreira é mais procurada pelo sexo feminino? Os garotos que buscam a dança são estigmatizados como "não masculinos"?
A procura é maior pelo sexo feminino, mas existem muitos rapazes na faculdade, e sim, eles são vistos como femininos mas apenas por quem tem preconceito, ou na verdade, pouco conhecimento do que é ser artista. Não quer dizer que eles sejam ou que se tornem mais femininos por isso, eu, por exemplo, sou casada com um ator/bailarino.
Antigamente a base da formação do bailarino era estudar com os grandes mestres, não? Afinal, o que mudou na profissão e no mercado de trabalho depois que o curso se tornou universitário? O curso já é reconhecido oficialmente pelo MEC?
O curso já é reconhecido pelo MEC e acho que o que mudou foi o mundo e a dança acompanhou, como em outras tantas áreas das artes. O fato de termos uma formação universitária, além de colocar no mercado profissionais com melhores condições e conhecimentos para exercer a profissão, faz com que nos vejam com maior respeito por outros profissionais e leigos e tira a dança do lugar só do corpo e traz ela para o lugar do pensamento, também, o que é natural.
Que tipo de matéria se estuda na faculdade? Quantos anos de duração? Qual é o peso das aulas práticas na carga horária?
O curso tem 3 anos de duração e tem matérias como Filosofia, Artes, Teatro, História, Psicomotricidade, Psicologia, Anatomia, Fisiologia, Cinesiologia e as práticas como ballet contemporâneo, jazz, consciência corporal, técnica de Alexander, danças brasileiras, composição coreográfica e didática.
Ballet, por exemplo, estuda-se até o final e a carga horária das práticas é um pouco maior, mas a importância é a mesma.
Aonde trabalhar? Só dançando? Conte sobre este mercado. Dá para viver da profissão no Brasil?
É difícil, mas não é impossível viver de dança e acho que o mercado se abriu muito nesta área. A minha experiência me diz que sim, pois vivo de dança há quase 25 anos. Eu danço numa companhia profissional, subvencionada pela Prefeitura do Rio (Renato Vieira Cia de Dança), dou aulas de dança no Liceu de Danças e no Catsapá Escola de Musicais, dou aula de corpo e expressão corporal na CAL (que é uma escola de formação de atores) e então, eu acho que se vive sim de dança.
O problema talvez é que tenhamos que trabalhar muito para ganharmos bem, já que é uma profissão que exige muito do físico e nem sempre ela é remunerada à altura (comparando-se com outras profissões). Acho que é o mesmo caso do professor, cujo trabalho não é tão bem remunerado como merece, mas aí são coisas desse país...
Qual o conselho que você daria para quem pretende seguir a profissão?
Vá com fé, siga em frente, estude muito, abra sempre seus horizontes e esteja atualizado com o mundo. Há sempre um lugar para um bom profissional, principalmente para os que têm paixão pela profissão que escolheram.
Ozana Hannesch
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