A física Viviane Regina Algarve, de 30 anos, trabalha há seis anos no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
O CPTEC, um centro moderno e avançado para previsão numérica de tempo e monitoramento climático, foi planejado no fim da última década e implementado em 1994 pelo INPE. Até então a previsão de tempo era feita subjetivamente e tinha utilidade de, no máximo, 36 horas. Em 1995 o CPTEC operacionalizou modelos matemáticos de grande complexidade para a previsão numérica de tempo de curto prazo (60 horas) e médio prazo (7 dias), usando supercomputados capazes de executar bilhões de cálculos por segundo.
"Com o trabalho do CPTEC, a previsão de tempo no Brasil melhorou e ganhou confiabilidade, colocando nosso país no mesmo nível de países avançados da Europa e da América do Norte", diz Viviane, que se considera, com muito orgulho, uma física da atmosfera.
Qual a sua formação?
Sou formada pela Unesp, de Rio Claro, no interior de São Paulo, e colei grau em 1992. Fiz mestrado no Instituo Nacional Pesquisas Espaciais, o INPE, com defesa da dissertação em novembro de 1994.
Quando você se interessou pela profissão? O que levou você a se
interessar por ela?
Quando iniciei minha faculdade de Física já comecei a fazer iniciação cientifica em áreas ligadas a agricultura e quis continuar a trabalhar com essa áreas depois de formada. Fui então buscar fazer uma especialização em áreas relacionadas com agrometeorologia e assim cheguei até o INPE. Quando estava no INPE, conheci melhor a meteorologia e quis me especializar na área de sinótica (e os sistemas meteorológicos que atuam no Brasil). Nesse período já comecei a entender e pesquisar sobre o que seria a Previsão de Tempo. Agora já faz seis anos que estou trabalhando com Previsão de Tempo e já me considero uma física da atmosfera.
Quais são as suas atividades cotidianas? O que faz exatamente um meteorologista?
O meteorologista tem várias funções dentro do CPTEC/INPE. Temos quatro grupos essenciais de trabalho dentro de uma Divisão de Operação Meteorológica. Um grupo trabalha com a operação dos modelos numéricos de previsão de tempo e avaliação das saídas do modelo. Esses modelos são utilizados pelos meteorologistas do outro grupo de Previsão de Tempo para fazer previsões, usando também outras ferramentas como dados observados, imagem de satélite e outras informações.
Tem um outro grupo de meteorologistas que trabalha com monitoramento do clima, previsão para os próximos meses das perspectivas de chuva ou de seca, tendência de temperatura acima ou acorpo da média. Outro grupo onde trabalham também meteorologistas desenvolve produtos meteorológicos.
Além de fazer previsão de tempo, também trabalho com a parte de contratos de usuários aos quais prestamos serviços. Sou também uma espécie de relações públicas junto aos nossos usuários.
Que conselhos você daria para uma pessoa que se interessa por meteorologia?
As pessoas que quiserem seguir a carreira de meteorologia devem estar sempre pensando em pesquisas e desenvolvimento de novos trabalhos. A prática é muito importante, mas a pesquisa e os novos desafios são de suma importância não só para o profissional, mas para a sociedade meteorológica em geral.
A meteorologia no Brasil ainda é bastante nova e a tendência é realmente um grande crescimento nas áreas ligadas a essa área do conhecimento. As pessoas que estão pensando em fazer meteorologia devem encarar a carreira como um grande desafio e seguir seu palpite. Num país que os profissionais, de forma geral, não estão satisfeitos com o salário, a meteorologia também não é diferente. É preciso se animar e seguir a intuição. Sempre com muito esforço as pessoas conseguem chegar ao lugar que almejam.
Quais são as perspectivas desse mercado de trabalho?
Como eu disse, a Meteorologia está em pleno desenvolvimento e o mercado de trabalho está crescendo, e muito. Hoje existem firmas particulares que fazem serviços de meteorologia e atendem a empresas que já entenderam que podem utilizar a informação meteorológica para adquirir desenvolvimento e lucros.
O objetivo da meteorologia não é simplesmente acertar ou errar a previsão, não é? Quais os principais objetivos da meteorologia?
Para chegar uma previsão com uma boa confiabilidade existe um grande cronograma a ser seguido. A utilização de modelos numéricos de previsão de tempo e clima facilitou muito nos acertos para as previsões.
A confiabilidade do modelo do CPTEC/INPE depende e muito da região que está sendo analisada. Por exemplo, para o Nordeste e Norte do país não podemos informar previsão de tempo com mais de 3 dias de antecedência. Já no Sudeste, Centro-Oeste e Sul poderemos utilizar previsões de até 5 dias.
Há alguns anos, antes da criação do CPTEC, o que o meteorologista tinha como ferramenta não lhe permitia fazer previsões acertadas e o profissional só conseguia trabalhar com margem de um dia com boa confiabilidade.
Cabe salientar que num país como o Brasil, há áreas com as estações do ano bem definidas - primavera, verão, outono e inverno - como é o caso dos estados do Sul, Sudeste e também Centro-Oeste. Já no Nordeste é importante monitorar as estações secas e chuvosas. O objetivo da meteorologia não é somente acertar ou errar com relação à previsão de tempo. O meteorologista é um eterno pesquisador.
Qual a remuneração de um meteorologista em início de carreira?
Depende de onde irá trabalhar. Se for com uma bolsa de estudo, seria em torno de R$ 1200. Mas se for uma contratação, seria em torno de R$ 1.700, bruto, no caso do CPTEC. Se for funcionário público, depende - e muito - da categoria para a qual a pessoa fez o concurso.
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