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Ciências Aeronáuticas: uma área com diversas habilitações

Éder Henriqson | Piloto de Avião

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Éder Henriqson é Piloto de Avião, Bacharel em Ciências Aeronáuticas pela PUCRS, Mestre em Administração e Negócios e aluno do programa de doutoramento em Engenharia de Produção e Transportes da UFRGS.

Éder pilota aeronaves há 12 anos e tem mais de 5 mil horas de vôo, sobretudo como instrutor em simuladores e aviões. Com essa formação, ajuda a preparar novos pilotos, integrando o corpo docente da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, onde leciona disciplinas como Segurança da Aviação e Legislação Aeronáutica, entre outras. Ele também é Coordenador do Departamento de Treinamento de Vôo da PUCRS, e Examinador Credenciado da ANAC. Lidera, ainda, o Núcleo de Pesquisas Aeroespaciais (NUPA), vinculado ao Centro de Microgravidade e à Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS.

Quando você descobriu que queria fazer da aviação uma profissão?

Não sei bem ao certo. Sempre me interessei por máquinas, especialmente carros, motos e aviões. Lembro que, em 1994 (com 16 anos), passei a freqüentar os cursos de piloto do Aeroclube de Santa Cruz do Sul, tendo concluído o Curso de Piloto Privado de Avião em 1996. Nesta época, eu já estava decidido pela profissão. Apaixonei-me de imediato pelo vôo e pela aviação.

Como é a formação de um piloto?

Ela compreende estudo e treinamento teórico e prático para obter diferentes licenças, bem como a realização de cursos especiais de qualificação.

Para iniciar os cursos aeronáuticos, o candidato deve possuir 17 anos completos e o Certificado de Capacidade Física (CCF) em serviços da saúde credenciados pela autoridade aeronáutica. A instrução teórica de Piloto Privado compreende aproximadamente 100 horas-aula, sobre meteorologia aeronáutica, regulamentos de tráfego aéreo, navegação aérea, conhecimentos técnicos de aeronaves e motores, aerodinâmica e teoria de vôo, medicina e direito aeroespacial e segurança de vôo. Após o curso teórico, o candidato realiza exames junto à ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para, então, dar início ao treinamento prático de vôo, compreendendo a realização de aproximadamente 40 horas de vôo em aeronaves de pequeno porte. Finalmente, após a aprovação nos exames teórico (prova de conhecimentos) e prático (vôo de verificação de perícia ou "vôo de cheque") o candidato recebe a Licença de Piloto Privado de Avião com habilitação para operação de aeronaves monomotoras. O detentor dessa licença tem como prerrogativa o exercício da pilotagem como prática de aerodesporto.

A profissionalização do piloto ocorre após a licença de Piloto Comercial (PC). O curso de PC também compreende a realização de estudos teóricos e práticos. Os cursos teóricos geralmente têm duração aproximada de 300 horas-aula, com estudo diversificado de conhecimentos técnicos e específicos da pilotagem (navegação, regulamentos, motores, meteorologia, entre outros), bem como do sistema de aviação civil nacional e do direito aeronáutico. Após a realização do curso teórico o candidato deve realizar prova junto à ANAC para comprovação dos conhecimentos. A parte prática envolve aproximadamente mais 100 horas de vôo em escola homologada para obtenção da referida licença. Nesta etapa da formação o candidato passa a ter contato com aeronaves gradativamente maiores, mais rápidas e mais complexas.

A formação do piloto, todavia, não pára por aí. Outras habilitações são requeridas pelo mercado empregador, tais como: habilitação para vôo por instrumentos, aviões multimotores, instrutor de vôo, reboque, entre outras. Cursos de Segurança de Vôo, Fatores Humanos, CRM, Tráfego Aéreo Internacional, Fraseologia Aeronáutica Internacional, Aviônica, Performance, Peso e Balanceamento de Aeronaves, Técnica de Operação de Jatos, familiarização com Sistemas de Gerenciamento de Vôo (FMS), Navegação Inercial e por Satélites, "Glass Cockpit", entre outros são desejáveis na busca da qualificação profissional.

A terceira etapa compreende a aquisição da Licença de Piloto de Linha Aérea (PLA) através da comprovação de conhecimentos teóricos por prova junto a ANAC e a declaração de experiência de vôo de aproximadamente 1200 horas realizadas ao longo da profissão, através do acúmulo de experiência como piloto.

Os cursos superiores de ciências aeronáuticas são realidade no país desde 1994, embora, em países da Europa e dos Estados Unidos, este cursos existam há mais de 50 anos. Só nos EUA são mais de 200 cursos, segundo dados da University Association Acreditation (UAA). Acredito que os cursos superiores em CA, embora ainda não sejam instituídos como obrigatórios pela ANAC, qualificam de forma diferenciada a formação profissional por integrar todos os conteúdos e tecnologias necessárias à capacitação de pilotos, seguindo aos mais altos padrões internacionais de formação.

Cabe salientar que os cursos de CA no Brasil se diferenciam em estrutura, conteúdo e ênfase na formação. Na PUCRS, por exemplo, formamos Bacharel em CA com ênfase em Piloto de Linha Aérea, ao contrário da maioria dos cursos que tem como foco a gestão de aviação civil e são cursos superiores tecnológicos (chamados "tecnólogos") e não bacharelados.

O curso de CA da PUCRS é bastante exigente em termos de qualidade e densidade de conteúdo e carga horária. Exigimos 25hs de vôo para ingresso, pois o curso é homologado junto a ANAC nas modalidades de Piloto Comercial e Piloto de Linha Aérea. É assumido que o aluno com 25 horas de vôo já tenha realizado a parte teórica e 75% das horas de vôo do curso de Piloto Privado. As 25 horas de vôo são importantes, também, pois servem ao candidato para identificar sua vocação à pilotagem.

Que características da profissão a diferenciam das demais?

A profissão de piloto de aeronaves exige elevado conhecimento técnico e constante atualização, uma vez que a evolução tecnológica é muito rápida. É necessário também, além de aptidão psicológica e saúde física, disciplina profissional (pontualidade, cordialidade, senso de cumprimento de regras, entre outros), conhecimentos gerais e flexibilidade para adaptação às novas situações de vida, tais como: horário de trabalho variado definido por escalas de vôo mensais ou quinzenais; pode ser necessária a transferência de residência entre cidades, estados ou países ao longo da carreira; e distância da família em momentos de jornada de trabalho longa com muitas escalas e pernoites em diferentes localidades.

Qual o perfil de um piloto?

Além da competência técnica, autonomia, capacidade decisória e adaptação a situações novas. O perfil atual do piloto alinha-se com a  perspectiva de um gestor, capaz de assimilar e usar novas tecnologias, identificar implicações sociais, econômicas, políticas e diplomáticas do exercício da profissão, decidir sobre aspectos técnicos e administrativos das operações de vôo, ser responsável pelo bom clima de trabalho e relacionamento interpessoal da tripulação e conduzir a aeronave com segurança, eficácia, economia e conforto.

Acredito que coragem e ousadia são premissas superadas pela aviação atual, pois não devemos conceber a idéia da atividade aérea como algo arriscado ou perigoso. A aviação de transporte é uma atividade de risco gerenciado, com excelentes índices de segurança, apesar dos recentes acontecimentos. Entendo que a segurança e a atitude profissional de um piloto passam pela capacidade de discernimento e julgamento superior, que, por sua vez, depende de uma formação profissional sólida capaz de desenvolver uma cultura de segurança de vôo alinhada às necessidades da indústria.

O índice de evasão de alunos do curso é, desde sua fundação, muito baixo. Temos a menor taxa de evasão da universidade, considerando os aproximadamente 30 mil alunos da PUCRS. Acredito que isso se dá também em função da exigência de 25 horas de vôo para ingresso.

Quais as aptidões e habilidades necessárias para pilotar?

As competências necessárias para a pilotagem podem ser classificadas de forma geral em três dimensões: as habilidades psicomotoras, as habilidades cognitivas e as habilidades emocionais. Refiro-me às habilidades psicomotoras como àquelas aptidões relacionadas à capacidade de manipulação dos controles da aeronave e precisão do vôo. Já as habilidades cognitivas referem-se aqui às capacidades intelectivas do sujeito na pilotagem, compreendendo as estratégias, conhecimento e dinâmica atencional utilizadas no vôo. Estas habilidades se manifestam pela capacidade de planejamento e antecipação de ações, bem como ativação de conhecimentos relativos à operação.

Em termos de habilidades emocionais, poderíamos tentar resumir a complexidade deste aspecto na idéia de um bom equilíbrio emocional, motivação e capacidade de lidar de forma adequada com frustrações. Da mesma forma, cabe salientar que o inglês é imprescindível, uma vez que é a língua oficial da aviação e, a partir deste ano, os pilotos devem demonstrar proficiência no idioma para a realização de vôos nacionais e internacionais, segundo novas diretrizes da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI).

Quando as mulheres começaram a se interessar pelo curso?

Acredito que a pilotagem de aeronaves ainda seja encarada como uma profissão tipicamente masculina. Todavia o número de mulheres interessadas na profissão aumenta todos os dias. Temos mais de 20 alunas egressas do curso de ciências aeronáuticas, algumas voando no Brasil, Estados Unidos e Europa. Na maioria das turmas do curso temos de uma a quatro alunas. Não acredito que haja discriminação no segmento da aviação de transporte comercial. Talvez algum preconceito por parte de poucos passageiros. Por outro lado, já tive a oportunidade de perceber várias pessoas saindo do avião e elogiando a piloto.

Como está o mercado de trabalho para o piloto?

Está muito bom e as perspectivas para o setor são bastante promissoras. Estamos passando por um período de escassez de mão-de-obra qualificada. Existem pilotos desempregados, sendo que muitos destes carecem de maior qualificação profissional. Acredito que a boa formação é um passo importante para resolver essa questão. Atualmente são mais de 30 empresas de transporte aéreo regular cadastradas no Brasil, sendo que muitas destas estão contratando pilotos para atender a compra de novas aeronaves e a expansão da malha aérea, tais como Gol, Varig, TAM e Ocean Air.

Um piloto tem como alternativas ao exercício exclusivo da pilotagem a atuação em funções de direção, gerência e supervisão em empresas aéreas, sobretudo em áreas relacionadas às operações de vôo, segurança de vôo e manutenção. Têm ainda, o exercício de funções técnico-especializadas em empresas aeroportuárias, fiscal/inspetor de aviação civil (concurso público), operações aeroagrícolas, serviços aéreos especializados, treinamento ou a docência e pesquisa em instituições de ensino.

Qual é em média de remuneração de um piloto?

A remuneração é determinada pela função que ele exerce (comandante ou co-piloto), tipo de aeronave voada (pequeno, médio ou grande porte), segmento da aviação em que trabalha (empresas de transporte aéreo regular, não-regular, táxi aéreo, serviços aéreos especializados, instrução de vôo, etc), tempo de profissão, entre outros. Todavia, em termos de contexto brasileiro, pilotos recém formados têm remuneração inicial variando de R$ 1500,00 a 6.000,00. O salário de um comandante de linha aérea regular pode até passar de R$ 12.000,00. Enfim, considerando o contexto socioeconômico do país, pode-se dizer que a remuneração média na profissão é bastante satisfatória.



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