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Antropologia: uma ciência ainda bem nova

Luiz Guilherme Braga | Antropólogo

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Luiz Guilherme Braga tem 27 anos e optou por especializar-se em Antropologia. Ele explica que essa é uma ciência ainda bem nova, se comparada à Física, Química, Biologia, Sociologia e Psicologia. Apesar de hoje os estudos antropológicos estarem muito prestigiados no meio acadêmico, a disciplina ainda está em fase de institucionalização, o que gera fatores positivos e negativos. Veja o que Luiz Guilherme tem para contar.

Faça um breve resumo de sua formação e carreira.

Na área de Ciências Humanas é comum o intercâmbio entre as disciplinas que a compõem. Encontramos antropólogos que migraram para a História e Filosofia, encontramos filósofos que estudam Antropologia e Educação, encontramos sociólogos e psicólogos que estudam outras disciplinas que não a de sua primeira formação. Isso ocorreu comigo. Portanto, não se surpreenda com o que vai ler.

Sou publicitário por formação, cursei Comunicação Social na PUC-Rio (publicidade e propaganda) e quando estava na metade da graduação percebi que não queria exercer a profissão. Preocupado com meu futuro, comecei a fazer uma mudança que me permitiria migrar para Ciências Sociais (Antropologia e Sociologia). Para tal, participei do chamado Programa de Iniciação Científica, no qual desenvolvi uma pesquisa sob orientação de um antropólogo do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio. Foi aí que despertei para a Antropologia e também Sociologia.

Após o término da pesquisa e da bolsa de estudo, procurarei um intercâmbio numa universidade na Inglaterra, o que me proporcionaria uma melhor formação nas ciências sociais, consolidaria a fluência na língua inglesa e seria também uma grande experiência de vida.

Consegui, através da central de intercâmbio da PUC-Rio, ir estudar na Middlesex University, em Londres. Foi um momento especial na minha vida, pois reuni tudo o que queria: vivia sozinho em uma república, fazia cursos de Sociologia e Literatura, melhorava meu inglês a todo o momento, tinha dinheiro para me sustentar e liberdade para fazer o que mais gosto, ou seja, viajar bastante. O sistema inglês de ensino proporciona liberdade com responsabilidade: há menos horas-aula que no Brasil e muito estudo individual - um esquema que pouco depois encontraria na pós-graduação brasileira. Enfim, foram seis meses muito bem vividos no exterior e, ao voltar, tive apenas que finalizar meu curso na PUC-Rio, que também foi muito bom durante os 4 anos e meio em que estive vinculado a esta universidade.

Enquanto terminava o curso de publicidade, fui trabalhar em um colégio particular em Nova Iguaçu, atuando na área administrativa, procurando consolidar técnicas de administração e marketing em uma instituição de ensino. Escolas geralmente têm dificuldade de se enxergar como empresas e era isso que tentava mudar na mentalidade do colégio, principalmente na cabeça do pessoal administrativo e da direção. Ao mesmo tempo em que trabalhava no colégio e finalizava a PUC, comecei a estudar para o concurso de mestrado em Sociologia e Antropologia da UFRJ. Fiz a primeira vez e não passei. Mas, não desisti, tentei de novo no ano seguinte e fui aprovado. Comecei em 2005 e finalizei este ano, em Junho de 2007. De lá para cá venho me preparando para o doutorado.

O que faz um antropólogo e onde pode trabalhar?

A atividade de um antropólogo é variada, mas a antropologia que eu pratico faz o seguinte: procuramos entender a cultura de uma sociedade ou determinado grupo social, explicando como as pessoas se enxergam e o que pensam de si e do mundo ao seu redor. Num mundo cada vez mais conectado pelos meios de comunicação e pelas facilidades da tecnologia, as trocas e interações culturais entre povos, comunidades e classes sociais ampliam-se consideravelmente, o que gera muitas vezes problemas e desentendimentos.

As pessoas pensam e agem de acordo com a sua cultura, ou seja, suas crenças, hábitos e costumes que foram aprendidos dentro do cenário em que foram formadas. Diante disso, é necessário cada vez mais explicar os fatores culturais para entender os acontecimentos sociais do dia-a-dia. Um exemplo do momento: aquecimento global. Por que chegamos neste ponto? Há muitos motivos e não pretendo falar de todos, mas de apenas um: a separação entre homem e natureza.

Dividimos culturalmente o mundo entre humanos e não humanos, ou seja, tudo o que é humano nos diz respeito e temos que cuidar, mas o não-humano (animais, plantas, recursos minerais) não faz parte do nosso interesse. Uma concepção cultural que nos levou a desrespeitar outras formas de vida e o planeta como um todo, colocando hoje nossa própria espécie em risco. Outras sociedades, principalmente indígenas, no caso brasileiro, têm uma cultura diferente e percebe o ser humano como parte integrante da natureza, respeitando-a e não a destruindo.

Vejam, então, como duas formas culturais de enxergar a posição do homem no planeta geram atuações diferentes e quase opostas. São com questões como essa que nós lidamos ao tentar explicar a cultura de uma população e como esta cultura faz com que as pessoas ajam de uma determinada maneira. Para entender isto, saímos a campo e conversamos com as pessoas, tentando entender suas crenças, hábitos, formas de pensar, etc.

Em relação ao mercado de trabalho, esse ainda é muito restrito à pesquisa científica, o que é uma pena, pois um antropólogo em uma empresa faria uma grande diferença. Temos então grupos de pesquisa, que buscam entender as concepções religiosas, a noção de gênero, a discussão sobre raças, a violência, etc.

Qual a formação do antropólogo e quais as características dessa profissão?

Quem quer ser antropólogo deve procurar preferencialmente um curso de Ciências Sociais, no qual o estudante terá matérias de Antropologia, Sociologia e Ciência Política, fazendo a opção por uma delas na pós-graduação. A formação visa dar ao estudante um bom preparo nas ciências sociais e, também, alguma coisa de psicologia e filosofia (mas não muito). É uma formação geral, bem ampla, cuja especialização ocorrerá mesmo na pós-graduação. Há cursos de teoria geral em Antropologia e Sociologia, cursos sobre religião, gênero, ritual, sobre modernidade e globalização, violência, teoria política, etc.

É bem amplo e acho que assim deve ser. O perfil do antropólogo é muito diverso, não dá para caracterizá-lo com facilidade. Mas, a antropologia que pratico exige muita dedicação, vontade de estudar - ler bastante é fundamental - e disposição para ir a campo levantar dados, conversar com as pessoas, se inserir em um contexto social, viver com as pessoas para entender o que fazem, o que pensam e o que as motiva.

Não é fácil, é necessário se adaptar à realidade que você optou por se inserir. Eu, por exemplo, que estudo relação entre religião e modernidade, fiz trabalho de campo dentro de uma escola pública estadual, acompanhando professores de ensino religioso. Tinha que estar no colégio às 7 horas e estar disponível para encontros pedagógicos, saídas extracurriculares, etc. Ou seja, me tornei um freqüentador assíduo da escola, participei do seu cotidiano. Parece simples, mas ao mesmo tempo precisava continuar estudando para dar conta das matérias da pós-graduação e da dissertação de mestrado que escrevi. Quase não sobra tempo livre.

No entanto, se aprende muito. Então, por um lado, há muito estudo individual e isso é um pouco solitário. Por outro lado, quando estamos fazendo trabalho de campo, em contato com as pessoas, a pesquisa se torna mais dinâmica e empolgante.

Atualmente, a atuação dos antropólogos é importante também dentro de algumas empresas. Como isso acontece?

De fato, quanto mais cresce o prestígio da antropologia e da pesquisa científica antropológica como forma de explicar o comportamento humano e o direcionamento que toma uma determinada sociedade, maior é a sua visibilidade e, conseqüentemente, a atuação do antropólogo no mercado de trabalho também aumenta. No entanto, ainda são muito poucas as empresas que percebem e dão valor a importância que tem a antropologia e não há muitas vagas no mercado.

A pesquisa científica continua a ser a forma de atuação principal do antropólogo. Um profissional bem formado pode atuar numa empresa, identificando problemas e hábitos internos que podem melhorar muito a produção; podem realizar pesquisas com o público alvo de determinada empresa, procurando compreender como as pessoas consomem, ao que dão valor, qual é a imagem que o público possui de uma empresa, etc.

Atualmente, como já disse, quem seguir a carreira de antropólogo deve se preparar para um mercado que tem potencial, mas que ainda encontra-se muito fechado. Por enquanto, a pesquisa e a carreira universitária como cientista social são as duas atuações mais comuns.

Que carreiras ou cursos podem completar a formação em antropologia?

Eu acho que o antropólogo ou o sociólogo deve ter cultura geral, além do grande preparo específico que a disciplina exige. É o que chamo de duplo esforço, uma vez que a especialização é necessária, mas as boas idéias surgem a partir do entendimento de tudo um pouco. Leia muito, estude psicologia, comunicação, filosofia, esteja atento aos acontecimentos do mundo.

Não há receita de bolo, mas se você ler o que os professores recomendam e procurar leituras de outras disciplinas, você deverá ter sucesso nesta carreira. Diria que psicologia e filosofia são dois cursos importantes para ajudar o antropólogo ou sociólogo a se desenvolver.

Como está o mercado brasileiro para antropólogos? Sair para o exterior é o melhor caminho?

O mercado brasileiro não é muito bom, como já disse antes, mas existe potencial. Quem fizer Ciências Sociais na faculdade, deve saber que é preciso seguir em frente e fazer pós-graduação - mestrado e doutorado. Sem isso, o mercado que já é pequeno fica menor ainda. Desta forma, o profissional que segue o caminho que estou trilhando termina sua formação em torno de 28-32 anos de idade. É uma estrada longa, mas tem suas recompensas.

Que dicas você daria aos interessados nesta formação?

Acredito que a metade dos textos, artigos e livros que leio está em inglês. Então, aí vai a primeira dica: é necessário dominar a leitura da língua inglesa, francês também é requisito para entrar no doutorado. Por isso, assim que possível, matricule-se em um bom curso. Outra coisa: procure fazer uma viagem de intercâmbio. Viajar é muito importante, pois só assim você sai do seu contexto e encontra a diferença, a outra maneira de pensar e agir - o que fatalmente faz você refletir sobre a sua cultura, a sua maneira de pensar e enxergar as coisas. As viagens para o exterior são ótimas e nesse sentido ajudam bastante. Isso tudo requer planejamento, pois viver fora custa muito dinheiro.

Por fim, durante a faculdade, não fuja dos professores mais difíceis e dos livros complicados - conforme faz a maioria. Nas aulas fáceis, passar é moleza e a nota sempre é alta. Mas, depois, na hora dos concursos e do mercado de trabalho, passar para uma boa pós-graduação ou numa seleção de emprego não é tão fácil assim. Os professores exigentes são os que mais te ensinam e são os que verdadeiramente torcem por você.



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