Profissionais de Sucesso

Sempre uma entrevista com um
grande profissional!

Animais em zoológico e hotéis-fazendas também recebem os cuidados desse profissional.

Bruno Lobão | Veterinário de animais silvestres

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Não são apenas cachorros, gatos e passarinhos que precisam de veterinário no seu dia-a-dia. Animais em zoológico e hotéis-fazendas também recebem os cuidados desse profissional, que passa o seu dia às voltas entre adaptar o meio ambiente, doenças diversas e tratamentos preventivos. PhD em neurociência, Bruno Lobão é veterinário há 12 anos e trabalhou durante 2 anos em um zoológico no interior do Pará.

Por que você optou trabalhar com esse tipo de animais?

Uma época, fui doar um periquito e um jabuti para o zoológico e descobri que lá também tinha veterinário. Nunca imaginei que um veterinário também cuidava de animal de zoológico. Vi o Luiz Paulo Fedulo trabalhando, passei a ter uma boa relação com ele e descobri naquele dia que eu poderia trabalhar com isso. Sempre amei os animais de uma maneira geral, mas eu gostava mesmo era da diversidade de animais. Eu gostava de ter um monte de bicho diferente perto de mim. Sou um veterinário com alma de biólogo.

Existe diferença entre cuidar de animais domésticos e animais silvestres? Quais são?

É muito diferente. Com o cachorro e gato, você trabalha uma medicina mais curativa do que preventiva. Primeiro, porque eles já são extremamente adaptados à sociedade que a gente vive. Segundo, porque as pessoas que criam esses bichos geralmente têm noção da biologia do animal e acabam levando-os à clínica apenas quando eles já estão doentes.

Já a medicina de zoológico é mais preventiva do que curativa. O veterinário investe em todas as possibilidades para o animal não ficar doente, porque tratá-lo depois vai ser muito mais difícil. Em muitos casos, é preciso sedar os animais através de seringas ou até mesmo com tiros de tranquilizantes. Além disso, a quarentena acaba deixando o animal silvestre estressado, dificultando o tratamento.

Outra diferença é que animais mais humanizados, como o gato e o cachorro, demonstram que estão doentes, através de sons de dor ou fazendo manha, por exemplo. Já um animal silvestre não. Na natureza, se ele parecer doente, ele cai no status social, podendo perder seu posto no bando ou até mesmo ser morto pelos predadores. Isso é um desafio para o veterinário. Quando o animal silvestre demonstra um sinal de fraqueza é porque ele já está à beira da morte. Se você não intervier imediatamente, ele corre o risco de morrer logo depois.

Como é feita a medicina preventiva?

A coisa essencial na medicina preventiva é adaptar bem o animal ao ambiente dele,  procurar reproduzir o microambiente bem parecido com a sua realidade para que o animal possa exercitar os músculos naturais e também evitar o stress do cativeiro. Por exemplo, devem ser criados abrigos no recinto para que o animal possa se esconder do público quando lhe der vontade. Eles são como a gente, não é toda hora que gostam de aparecer em público. O animal também deve estar climatologicamente e fisicamente bem adaptado. Uma sucuri precisa ter um ambiente no qual possa se esquentar, porque na natureza ela sempre procura os lugares mais quentes para fazer a digestão. Tudo isso tem que ser pensado para que os animais não fiquem doentes.

É necessária especialização para trabalhar com esse tipo de animal?

No geral, o perfil das universidades é ter apenas uma ou duas disciplinas sobre animais silvestres, mas só isso não te confere a habilidade para trabalhar nesse campo. Por isso, é importante que o veterinário busque o conhecimento. Existem pós-graduações que ajudam nessa busca, mas é importante também a habilidade do profissional em ser autodidata, de ler e estudar por vontade própria. Outro fator crucial são os estágios, mais até do que as especializações, porque o livro é uma ferramenta imprescindível, mas você só aprende fazendo. Estar sempre discutindo os casos clínicos com outros colegas mais experientes também é outra forma de se ganhar conhecimento na área.

Quais são as características mais importantes para um veterinário que trabalha com animais silvestres?

Criatividade, senso de melhoria contínua, humildade de estar sempre aprendendo, saber que não é possível saber tudo e ter senso crítico para buscar a informação correta para aquele momento. A criatividade é importante porque você tem que saber como adaptar os alimentos disponíveis para a realidade e a necessidade de cada animal. E isso você está sempre aperfeiçoando, melhorando. Quem se acomoda acaba tendo uma margem de perda de animais um pouco maior. O veterinário de animais silvestres também tem que saber ensinar, para poder passar ao tratador as informações necessárias.

Quais são as opções de trabalho para o veterinário que optar por trabalhar com animais silvestres?

Todo local que se propõe a expor animais silvestres é obrigado, por lei, a ter um veterinário, seja ele por tempo integral ou parcial. Apesar disso, o mercado ainda é bastante restrito e muito competitivo. Por isso, é importante que o profissional seja capaz de se relacionar bem com as pessoas e já procurar, desde cedo, um estágio. Existe ainda a possibilidade de trabalhar em zoos particulares (de empresas, hotéis-fazendas, etc). Outras opções são trabalhar em instituições de pesquisa (Fiocruz, Butantã), em órgãos públicos de defesa ambiental (Ibama, Chico Mendes) ou dar consultoria na construção de zoológicos, resgate de animais silvestres em desastres ambientais ou monitoramento de fauna.

Quanto ganha, em média, um veterinário que trabalha com animais silvestres?

Os salários não são muito altos, girando em torno de R$3mil a R$5mil em zoológicos de prefeituras, com direito ainda à adicional por insalubridade. Já nos zoológicos particulares os salários são geralmente menores, na faixa de R$2,5mil a R$3,5 mil.

Quais são as perspectivas para o futuro nessa área?

A tendência é que os zoológicos melhorem mais em qualidade do que em quantidade. No Brasil, os recintos ainda são muito precários e os animais sofrem por isso. Com a tomada de consciência da população em relação à área ambiental, vai ser importante a presença de profissionais para trabalharem na melhoria da qualidade de vida dos animais que estão em cativeiro. A tendência é que os zoológicos, cada vez mais, sejam capazes de reproduzir em seu ambiente a tríade – educação ambiental, reprodução das espécies ameaçadas de extinção e pesquisa da biologia e de manejo. Assim, além de prover um ambiente melhor para os animais, ele permitirá uma vivência ecologicamente mais rica aos visitantes, com uma exibição mais bem estruturada e casada com a educação ambiental.



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