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A Música como Profissão

Ricardo Santoro | Músico

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As carreiras envolvendo música são cercadas de questionamentos, dúvidas e incertezas, mas alguns profissionais do ramo conseguem se sobressair apostando no estudo e no trabalho árduo, fora de rádios populares e da televisão.

Para entender melhor o cotidiano e a formação de um músico, conversamos com Ricardo Santoro, violoncelista da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Faça um breve resumo da sua formação e carreira.

Iniciei meus estudos musicais aos seis anos de idade, com meu pai, Sandrino Santoro, que é um grande músico ainda em atividade. Ele me ensinava flauta doce, pois é um instrumento fácil de ser tocado, podendo dar as primeiras alegrias musicais às crianças. Ao mesmo tempo, tinha aulas de teoria musical - com a mesma professora que o ensinou - e piano. Resumindo: fui musicalizado antes mesmo de ser alfabetizado. 
 
Passada essa longa fase inicial, com todo o conhecimento da teoria, e já com treze anos, tive as primeiras lições de contrabaixo. Chegamos à conclusão de que ainda não tinha tamanho suficiente para tocar aquele grande instrumento e optamos pelo violoncelo. Passado um ano de estudo de violoncelo, decidi que o que seria provisório viraria definitivo.

Quanto à carreira, sempre procurei fazer muita música de câmara, que é aquela tocada por pequenos grupos. Ao longo desses anos todos como profissional, tive vários grupos, com os quais toquei em vários concertos pelo Brasil e até na Alemanha e Estados Unidos. Também participo constantemente de programas de rádio e televisão, além de ter o reconhecimento da imprensa escrita.
 
Fora a música de câmara, faço parte da Orquestra Sinfônica Brasileira desde 1986 (entrei com apenas 18 anos e nem formado era ainda). Também faço parte da Orquestra Sinfônica da Escola de Música da UFRJ desde 1989. Fui contratado pela universidade seis meses apenas depois de formado. Também fui professor substituto da UFRJ por três anos (2001-2003).
 
Quais são as exigências para ingressar no curso? Há prova de habilitação? A preparação é a mesma para quem segue os clássicos e os populares?
 
Para ingressar em qualquer curso de música, é preciso ter algum domínio do instrumento. No caso do curso técnico, uma prova com pequeno grau de dificuldade. E, para o curso de graduação, a prova de habilidade específica, em que se exige do candidato um conhecimento bem mais profundo do instrumento, bem como a teoria e o solfejo. Solfejo é a capacidade de uma pessoa de cantar as notas na entonação perfeita.
 
Quanto à preparação para clássicos e populares, posso afirmar que a base é a mesma, ou seja, conhecimento do instrumento, teoria e solfejo. O que vai mudar são as matérias já dentro do curso e, claro, o mercado de trabalho.
 
O estudo de um músico se dá não só durante o curso, mas durante toda a vida. Estudamos muito para ingressar numa universidade, estudamos muito para fazer o curso com qualidade, e estudamos muito depois de formados para conseguirmos nos manter em atividade e num nível a ser respeitado pelo meio musical. Quem pára de estudar fica "enferrujado" e não consegue produzir.

Que outras habilidades (além das musicais) são necessárias ao músico? Falar outro idioma é importante?
 
Além das habilidades musicais, é preciso muita força de vontade, pois, como falei anteriormente, não temos férias; nosso estudo é eterno. O músico precisa também ser um pouco empreendedor, pensando em projetos para apresentar a empresas, prefeituras, teatros, escolas etc. a fim de forçar um aumento do seu próprio mercado de trabalho.

O músico clássico também deveria fazer música popular, pois uma música popular bem feita agrada até os críticos mais severos. No meu caso, sempre que faço um concerto, misturo os estilos. O público adora.

Falar outro idioma é importante, mas não imprescindível. No caso de pesquisas, é necessário, pois a maioria dos bons livros é escrita em inglês. E, se o músico, conseguir fazer carreira no exterior, aí, sim, é realmente importante.
 
Como está o mercado de trabalho para o músico no Brasil? Difícil de começar? Tem estágio? Parece que o estudo faz parte do trabalho, já que o músico não se apresenta todos os dias, não? Há chances no exterior para estudo e trabalho?
 
O mercado de trabalho no Brasil não está bom nem ruim. Na minha orquestra, a OSB, há vagas para praticamente todos os instrumentos, pois vários músicos saíram em função de salários atrasados. O problema maior acontece com os músicos que não tocam instrumentos de orquestra, como por exemplo, violão, piano e cravo. Nesse caso, o caminho é dar aulas. O importante a frisar é que o músico é que faz o seu mercado de trabalho. Se ele for bom, haverá trabalho em qualquer lugar.

Os concursos para orquestras e universidades acontecem com relativa freqüência. Normalmente no início do ano, as orquestras promovem concursos para preenchimento de vagas. Quanto a estágio, se o nível do candidato não for suficiente para preenchimento do cargo, mas ao mesmo tempo, for razoável, ele pode ser contratado como estagiário.

Continuo estudando todos os dias, sim, sempre que possível. Há chances de estudo no exterior. Empresas como Capes e CNPQ continuam oferecendo bolsas para estudantes brasileiros que querem estudar lá fora. Já para trabalho, depende muito de contatos com pessoas de lá que estejam interessadas no nosso trabalho.
 
Depois de formado, a carreira oferece algum tipo de especialização?

Existem os cursos de mestrado e doutorado em música.
 
O que você considera a maior vantagem da carreira? E o maior problema?
 
Para mim, não há uma maior vantagem, e sim várias vantagens. Poder levar a público meu trabalho honesto e sério é maravilhoso. Também me agrada muito levar música a pessoas que não têm acesso a ela, seja tocando em comunidades pobres e em escolas, seja tocando em cidades do interior do nosso país. Outra vantagem é poder viajar e conhecer lugares diferentes.

O maior problema é a falta de apoio das autoridades. Seria ótimo que todas as prefeituras tivessem uma orquestra, um teatro municipal etc.  Outro problema é a falta de espaço na televisão. Tenho certeza de que se tivéssemos mais espaço, nossos horizontes abririam.
 
Que conselho você daria para quem está começando?
 
Seja paciente, pois o estudo é longo e árduo, mas os resultados depois são maravilhosos.



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