A Engenharia de Telecomunicações é uma profissão relativamente nova, e ainda assim, em constante mutação, uma vez que a cada dia surgem novas e melhores tecnologias.
Vinicius Coutinho de Oliveira, um carioca de 27 anos, formado em Engenharia Elétrica com ênfase em Telecomunicações pelo CEFET-RJ, considera que o grande desafio e o grande prazer da profissão é exatamente este contato com novas tecnologias e o aprendizado contínuo.
Em poucos anos de carreira, acumulou experiências variadas: trabalhou em duas grandes empresas da área, Siemens e TIM e, hoje, faz mestrado no Japão. Vivendo num país com uma cultura tão diferente da nossa, Vinicius ganha visão crítica em relação à profissão, à carreira, às oportunidades de especialização e a viver no exterior.
Quais os campos de atuação para este profissional?
Uma grande parte dos campos de atuação englobados pela Engenharia de Telecomunicações está presente na nossa vida cotidiana. Muitos dos profissionais de Telecomunicações trabalham com o projeto, infra-estrutura e manutenção de redes de telefonia fixa, telefonia celular, Internet, redes de computadores - as chamadas LANs, popularizadas entre os jovens através das LAN houses, mas presentes há muito tempo nos ambientes corporativos - agora inclusive utilizando tecnologias que dispensam o uso de fios (Wireless LANs), transmissão de rádio e TV, bem como TV a cabo, comunicação de dados via satélite, fibra ótica, etc.
Qual o perfil do Engenheiro de Telecomunicações?
Para aquele que deseja ser um bom profissional nessa área é importante possuir algumas características como saber trabalhar em equipe, bom relacionamento, boa comunicação e, a meu ver como mais importante, sempre querer aprender, mais e mais, estudar e se manter atualizado.
Em geral, a pessoa que ingressa num curso de Engenharia costuma ter interesse por matérias como Matemática, Física e Computação. Essas disciplinas são, de fato, a base do curso de Engenharia, mas isso apenas não basta, em minha opinião. Aquele que tem interesse por cultura, conhecimentos gerais, boa escrita e bons conhecimentos de inglês leva muita vantagem na hora de buscar uma chance de trabalho.
Ter uma mente aberta e visão ampla das coisas ajuda a pessoa a se estabelecer e a se adaptar às mudanças, especialmente em um mercado tão dinâmico quanto o de Telecom.
Como está o mercado brasileiro para os profissionais da área?
Há alguns poucos anos, o mercado de Telecom no Brasil, que vinha em ligeira expansão, sofreu um forte "baque", o que resultou em muita gente qualificada, porém sem emprego, e achatamento salarial. Entretanto, acompanhando a melhora da economia, e motivado também pela entrada de novas operadoras de telefonia, as coisas vêm gradualmente melhorando. O que não significa que estejam "fáceis", mas creio ser esse o panorama de quase todas as demais profissões no contexto atual.
Nesse sentido, aliás, a Engenharia parece ter certa vantagem em relação a outras carreiras, como quase 100% dos estágios serem remunerados e salários iniciais em média superiores, se comparados a de outras categorias profissionais (mas, que fique claro, ainda são cifras modestas).
Quais as maiores dificuldades da profissão?
Posso apontar como grandes dificuldades da profissão no Brasil a volatilidade do mercado (que pode ou não acompanhar a volatilidade da situação do país) e a dependência de tecnologia externa ($$$).
O que você está estudando no Japão? Conte um pouco sobre sua experiência.
Atualmente, eu estou fazendo Mestrado na minha área (Comunicações sem Fio) na Universidade Nacional de Yokohama, Japão, através de um programa de bolsas do Ministério da Educação do Japão oferecido no Brasil pelos consulados.
É uma experiência incrível e que eu recomendo a qualquer um - tanto do ponto de vista técnico quanto do ponto de vista humano. Aqui estou pesquisando tecnologias relacionadas à 4ª. Geração de sistemas de comunicação sem fio - os celulares mais avançados no Brasil estão na geração 2.5 (dois e meio) e aqui no Japão, e Europa, 3ª. Geração. Isso, por si só, já bastaria para tornar a experiência suficientemente interessante.
Contudo, a parte mais valiosa é ter a chance de conhecer uma outra cultura, saber que há muita gente no mundo que pensa e que se porta tão diferente de nós, brasileiros, e buscar extrair daí algo que nos torne melhor. Além de poder passear por lugares exóticos, experimentar novas comidas, fazer amigos de toda parte do mundo, melhorar o inglês e aprender japonês.
Logicamente, sinto saudades da família, amigos, do clima, da comida e do ambiente no Brasil, onde as pessoas são mais abertas. E não sinto saudade da violência urbana, dos transportes precários e dos desmandos dos políticos. Viver no exterior nunca é um mar de rosas, seremos sempre estrangeiros fora do nosso país, por mais que superemos a barreira da língua e o choque cultural. Só que no Brasil, o cenário de Pesquisa & Desenvolvimento em Telecom é desolador, e, no fim, o que vemos é um monte de cientistas brasileiros trabalhando ou estudando aqui, nos EUA, Europa, etc.
Que sugestões você dá para os interessados em Engenharia de Telecomunicações?
Para quem deseja uma carreira na área tecnológica com bastante desafio, muita "ralação", contato com novas tecnologias, Telecomunicações é uma boa escolha.
Para quem vai começar o curso de Engenharia agora: tenha convicção, pois o curso é muito difícil principalmente no começo, não desista diante da primeira dificuldade.
Para quem quer buscar destaque na profissão: estude sempre, nunca se dedique menos de 100%, leia sobre as novidades na área, leia sobre Política, leia sobre Cultura, seja um profissional ético e aprenda inglês.
E para quem tem em mente morar no exterior: se você quiser mesmo, corra atrás, é possível, mas tenha bastante coragem, pois é difícil cortar os laços com a terra natal e, mais difícil ainda, pousar em terra estranha - mas vale a pena!
Ozana Hannesch
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