O romance conta a vida de José Gomes, O Cabeleira, temido bandido que aterrorizou o Pernambuco nos anos de 1760.
Pai e filho, associados a outro criminoso, Teodósio, praticavam toda sorte de delitos. Decidem, então, assaltar a Vila de Recife.
Sabendo da presença dos criminosos, a população se desespera:
A confusão foi indescritível. As expansões da pública alegria sucederam as demonstrações do geral terror. Homens, mulheres, crianças atropelaram-se, correndo, fugindo, gritando, caindo como impelidos por infernal ciclone. A fama do Cabeleira tinha, não sem razão, criado na imaginação do povo um fantasma sanguinário que naquele momento se animou no espírito de todos e a todos ameaçou com inevitável extermínio.
Violentos e sanguinários, os criminosos começam a atacar a população. Cabeleira não compreende o pai, pois a população fugia, diante do questionamento do filho, o pai responde:
— Estás com medo, Zé Gomes, deste poviléu? Parece-me ver-te fraquejar. Por minha bênção e maldição te ordeno que me ajudes a fazer o bonito enquanto é tempo. Não sejas mole, Zé Gomes; sê valentão como é teu pai.
Ao ouvir isso, Cabeleira, que era dominado pelo pai, é tomado de descomunal fúria e passa a atacar a população.
O exército chega e cerca a região, para fugir, os três cruéis criminosos atiram-se no rio Capibaribe.
A violência do Cabeleira é incentivada pelo pai desde tenra idade. Aos 16 anos o menino demonstra extrema crueldade. Nessa época, mata de forma violenta Chica, uma mameluca, companheira de Timóteo, dono de uma venda de artigos roubados.
No segundo capítulo, conhece-se a fúria de Cabeleria – o narrador conta as primeira preozas do criminoso, que ainda não completara dezesseis anos.
Chica, mulher de um taverineio – Timóteo – espanta o animal de Cabeleira que devorava-lhe a horta. Indignada, desvela xingamentos contra o rapaz que a ignora – diante da reação de Cabeleira, a mulher tenta acertá-lo com a vara que trazia na mão. O rapaz se esquiva e esbofetea a mulher que cai. Arrasta-a para fora e a espanca, deixando-a à morte.
Dias depois, retorna e pergunta pela mulher. O tarveneiro informar-lhe que a mulher havia morrido. Cabeleira, então, obriga-lhe a beber um copo de cachaça para comemorar:
— Ah! fez esta bestidade? Pois então, para .celebrarmos o caso, boteaguardente e bebamos. Timóteo encheu sem demora o copo que apresentou a José.
— Beba primeiro — disse este.
— Não, eu não bebo — respondeu o taverneiro.
— Que imprudência a sua, menino! Não bebo, não quero beber, está acabado. Veja se me obriga.
A este rasgo de cobarde arrogância que seria digna do riso se não despertasse compaixão, José retrucou, fitando os olhos do colono:
— Seu Timóteo, você vai errado. Olhe que eu não posso demorar me nem sou de graças. Beba a aguardente por quem é.
O taverneiro, sem replicar, pôs o copo na boca, e, depois de haver sorvido alguns goles que lhe souberam a quássia ou jurubeba, restituiu o ao rapazito, que o esvaziou quase de um trago.
Diante disso, a fama de valente e cruel do rapaz se alastrou. O taverneio, Timóteo, não questionava o rapa, pois o temia.
No capítulo IV, conhecemos a infância de Cabeleira – que segundo contam tinha boa índole, herdada da mãe, a frágil Joana.
Pela sua organização, pelos seus predicados naturais, o Cabeleira não estava destinado a ser o que foi, nós o repetimos. Os maus conselhos e os péssimos exemplos que lhe foram dados pelo desnaturado pai converteram seu coração (…).
Na verdade, quando menino, Cabeleira fora ensinado pelo pai a ser mal. Quando o pai mandava o menino matar passarinhos, este lhe dizia:
— Tenho pena, papai, e não farei isso aos pobrezinhos — respondeu o menino.
— Tens pena, tu, José? Pois sabe que é preciso que percas esta pena e que te vás acostumando a ser homem. Se hoje cravas o espeto na titela do bem-te-vi, amanhã terás necessidade de cravar a faca no peito de um homem; e se no momento da execução tiveres a mesma pena, ai de ti! que a mão te fraqueará, e o homem te matará.
A mãe tentava livrar o filho dos maus ensinamentos do pai e como não havia jeito, rogava a Deus que mantivesse a natureza boa de seu filho. Irritado com as tentativas da esposa de manter o filho um bom, Joaquim, decide abandonar a mulhr levand Cabeleira. O menino ficou muito triste, pois não queria abandonar a mãe nem a amiga Luisinha, a quem faz uma promessa:
— Pois eu lhe digo uma coisa: se algum dia eu chegar aqui de volta, tenha logo por certo que não faço mais mal a ninguém. Se pareço mau, Luisinha, não é por mim.
No capítulo V, conhecemos Luisinha, uma menina orfã criada por uma viúva que a adotara. Menina de boa educação e de boa índole, enchia-se de tristeza com as coisas que ouvia sobre Cabeleira, cuja fama de cruel crescia assustadoramente.
Certo dia, quando fora buscar água, luisinha deparou-se com uma homem que tentara levá-la à força. Sua mãe, estranhado a demora foi atrás da moça, mas acabou sendo ferida pelo homem, que tempo depois revelou ser o Cabeleira:
— Agora te conheço, José malvado — disse a moça. — Mata-me também, já me mataste minha mãe que nunca te ofendeu.
— Ah, conheceste afinal o Cabeleira ?
— Tanto me conheceste tu, desgraçado!— Que queres dizer com estas palavras ? — perguntou o bandido.
— Olha-me bem. Até de Luísa te esqueceste ! Assassino, eu te perdôo a morte: mata-me.
— Perdoe-me, Luisinha. Nem eu a posso levar comigo, nem posso demorar-me por mais tempo. O meu rancho está em perigo, e os camaradas chamam-me em socorro deles. Mas espere por mim um pouco debaixo deste juazeiro, que eu quero que você me ouça. Eu volto já.
Cabeleira escondia-se perto das terras de Liberato, irmão do negro Gabriel, a quem ele e o pai mataram. Ao saber que Cabeleira matara seu irmão, Liberato reúne-se com outros fazendeiros para atacar Cabeleira e seu bando. Porém, temerosos, os outros fazendeiros se negam. Liberato, junto com seus dois filhos e seu genro parte atras dos criminosos. Estes, porém, são avisados e armam uma tocaia para o grupo de Liberato que acaba sendo morto.
Para responder aos audaciosos ataque de Liberato, Joaquim propoem o rapto das melhores raparigas da cidade:
— Proponho o roubo das melhores raparigas da povoação. Isto, sim, há de dar a todos a medida da nossa audácia, e por todos será considerado uma prova de que estamos fortes como nunca estivemos.
Os demais, logo aceitam. No dia seguinte, dirigem-separa o povoado. Encontram a casa de Liberato, onde estão apenas as mulheres, inclusive Luisinha e sua mãe Florinda.
Os criminosos batiam na porta da casa mandando que as mulheres saissem. Como não saíam, decidiram queimar a casa – as mulheres, porém, decidiram não sair, mesmo que morressem queimadas. Morreriam ao pé do altar honradas.
Luisa, porém, foge com sua mãe, já morta. Os criminosos ao verem-na, correm atras dela. Joaquim a segurava, quando é interpelado por Cabeleira, que salva a moça e parte, abandonando seus grupo, a despeito dos pedidos de seu pai.
Os dois, Cabeleira e Luisa, fogem para a mata, afim de se livrarem das tropas.Todo o grupo de Cabaleira fora preso, inclusive seu pai. A população, entretanto, ainda temia, pois o mais valente dentre eles ainda estava à solta.
Cabeleira se embrenha no mato com Luisinha – sob a promessa de não mais matar, Cabeleira e Lusinha, procuram fugir das tropas. Cabeleira para, estava realmente arrependido por amor a Luisinha:
No bandido já não havia o assassino, havia um espírito contrito, um coração cheio do temor de Deus. Uma mulher fraca, tendo ao seu serviço unicamente a benevolência natural, a perseverança, as lágrimas e um passado quase desvanecido, havia operado uma conversão com a qual poderia legitimamente orgulhar-se um verdadeiro apóstolo do cristianismo.
Pouco depois, Luisinha acaba morrendo. Cabeleira descobre, então, que sua amada morrera dos ferimentos causados durante o incêndio:
— Queimada! Oh! Luisinha, que sofrimento não foi o teu! Que dores não suportaste em silêncio, desgraçada criança ! E como fico eu sem ti, meu amor ? Ai de mim, Luisinha ! Ai de mim!
A morte de Luisinha comovera Cabeleira que continuou a manter sua palavra de não mais matar.
No capítulo XVII, Cabeleria é finalmente preso. Por não confiar na prisão, o capitão-mor Cristóvão de Holanda Cavalcanti leva o criminoso para sua própria casa, até encaminhá-lo a Recife.
Na prisão, por estar extremamente triste, Cabeleria pede ao guarda que o vira menino – e não lhe queria mal – uma viola para poder cantar a dor da perda de Luisinha. Ao ouvir sua cantoria, a esposa do capitão pede ao marido que salve Cabeleira, por crer que ele não fosse tão mal. Os apelos, entretanto, não surtem efeito.
Cabeleria e seu bando são julgados e condenados à forca. Joana, mãe de Cabeleira pede para vistá-lo, o que lhe é negado.
Cabeleira é levado ao cadafalso:
— Morro arrependido dos meus erros. Quando caí no poder da justiça, meu braço era já incapaz de matar, porque eu já tinha entrado no caminho do bem...
Despede-se, dando adeus à sua mãe, que se encontrava na praça:
— Adeus mamãezinha do meu coração.
Joana não aguenta ver a morte do filho e morre nos braços das mulheres na praça.