Saúde

Tiques: um grande desconforto

Como lidar com os tiques de seu filho

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Se seu filho tem cacoetes como piscar os olhos, balançar a cabeça, fungar, levantar os ombros, fazer caretas ou qualquer outra contração muscular ou vocalização (tique fônico), repetitiva e sem qualquer função ou objetivo, pode estar certo de que ele está sofrendo pelo desconforto e mal-estar que isto lhe causa.

As pessoas que têm tiques sentem uma necessidade quase incontrolável de executá-los. Conter estes movimentos, mesmo que temporariamente, causa irritação e angústia e, depois do esforço, a manifestação do tique pode se tornar mais intensa. Aliás, as situações de stress são geralmente agravantes do problema. Curiosamente, os tiques desaparecem durante o sono.

Com o tempo, os tiques podem mudar de forma. Se antes o cacoete era apenas piscar, depois pode ser o de erguer o ombro ou produzir um som, como se estivesse desobstruindo o nariz. Os tiques também podem ceder completamente por um tempo ou até para sempre. Ou simplesmente estabilizar. Ou se agravar.

O psiquiatra e psicanalista Sérgio Belmont diz que o tique deve ser entendido como expressão motora de ansiedade e que “problemas neurológicos e psicológicos estão sempre interligados”. Por isto alerta que o tratamento deve ser realizado por profissional com formação abrangente e não radical, esclarecendo que existem psicólogos e psicanalistas que excluem os aspectos neurofisiológicos em suas intervenções e neurologistas que desprezam o emocional. “Não se pode avaliar a questão apenas por um desses aspectos, excluindo o outro”, daí entender que, pela formação, o psiquiatra tem possibilidades de uma atuação mais ampla e adequada nesses casos.

As causas podem ser muitas. Ansiedades provocadas por perdas ou outras motivações podem servir de motivo para o aparecimento de um tique. No caso da imitação de um colega, quando há idade para tal, o afastamento das crianças pode até atenuar o problema, mas não elimina o verdadeiro motivo que é o porquê da imitação.

Muitas vezes a origem pode estar no próprio ambiente familiar e uma das causas está ligada à observação de relações sexuais dos pais, quando as crianças dormem com eles no quarto.

No tique transitório, as razões emocionais ganham dimensão. Já no caso do chamado tique crônico, que persiste por longo período, com manifestações que podem ser bem complexas, envolvendo vários e amplos movimentos (com emissão de sons, como limpar a garganta, assobiar, fungar), as causas podem estar associadas ao Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC (leia sobre o assunto no link abaixo) como uma parte do ritual obsessivo, não devendo se excluir, entretanto, o componente emocional no tratamento.

Os tiques complexos também podem caracterizar o distúrbio neurológico da Síndrome de Tourette – nome do médico francês que descreveu pela primeira vez este tipo de compulsão. Esta síndrome acomete crianças e jovens, com predominância do sexo masculino. Ela se caracteriza pela presença de tiques motores e vocais associados a distúrbios de comportamento do tipo hiperatividade e ações impulsivas. Segundo Belmont, “a investigação nos casos complexos exige exames como eletroencefalograma, tomografia, etc e a avaliação de uma equipe multiprofissional”.

O que esperar do tratamento?

Quanto mais cedo for a intervenção, maiores são as possibilidades de êxito do tratamento. A atuação medicamentosa e psicoterápica adequada ajudam a evitar que os cacoetes se tornem crônicos, aumentando o sofrimento da criança (ou jovem) e que se acentue o significado psicológico e social que o problema lhe causa. 

O tique não tratado tende a aumentar de intensidade, uma vez que o sistema causador de sua expressão é mantido.

Aos pais, Belmont sugere alguns cuidados:

• Não deixem os filhos, de qualquer idade (mesmo bebês), ficarem no quarto e presenciarem relações sexuais. Geralmente, os pais justificam que os filhos estão dormindo e não veem as relações. Na verdade a criança está observando, às vezes fechando e abrindo os olhos alternadamente (eu quero ver, eu não quero ver). Esta é uma das razões para ocorrência de tiques oculares, simples e complexos. Se a permanência da criança no quarto durar muito tempo, diversos níveis de complexidade podem se estruturar.

• É importante que se trate o problema de tique como devem ser tratados todos os problemas de uma criança: sem drama excessivo, sem alarde, mas com a maior presteza e com uma intervenção objetiva.

• Os pais devem se incluir como possível causa do problema. Ambientes de conflito conjugal e outras questões de relacionamento familiar podem precipitar acúmulo de angústia em uma criança, expressada por um sinal psicomotor.

OBS: O profissional entrevistado é o Dr. Sérgio Antônio Belmont, psiquiatra, psicanalista e mestre em Psicologia Clínica pela USP.



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