Papo Sério

Damos valor a tudo que temos?

Pois deveríamos!

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Com frequência, na escassez, damos mais valor ao que temos. Se falta luz por duas horas, logo descobrimos tudo o que não podemos fazer sem a eletricidade, que nos passa despercebida no dia a dia. Mas, no cotidiano, somos tão indiferentes, que atravessamos cômodos deixando as luzes acesas, tevê, computador, som e ventiladores ligados.

Esse é só um exemplo. A nossa indiferença se estende por tudo que desfrutamos cotidianamente, sem muito esforço: papel, comida, roupas, família, pessoas... Enquanto a nossa atenção está sempre voltada para o que ainda não possuímos ou não conseguimos.

“Nenhuma roupa é tão bonita quanto aquela que desejo comprar; meus games não são tão desafiadores quanto os dos meus amigos; meu celular não é de última geração como eu gostaria; minha vida é muito enjoada, tão diferente da de tantas pessoas que conheço...”



De vez em quando é preciso a gente “sair” temporariamente do mundo que vive para descobrir que é feliz e não sabe. Acabei de fazer uma dessas “viagens” através da leitura de “A menina que roubava livros” de Markus Susak.

A história é narrada pela “Morte”. Mas o livro revela uma “Morte” sensível, filosófica, que tão somente cumpre sua obrigação de recolher as almas, sem fazer julgamentos e sem encontrar na tarefa qualquer prazer. Principalmente quando seu trabalho cresce consideravelmente, por causa da insensatez e ambição humanas, como acontece nas guerras.

A história é ambientada na Alemanha de Hitler, mas poderia ser no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, na África ou em qualquer época ou lugar do mundo. O fato é que as guerras vividas a distância chocam, mas podem ser dosadas, basta desligar a tevê ou deixar de ler o noticiário no jornal.

Mas quem vive nos locais das guerras experimenta as carências, as dificuldades, os racionamentos, os medos, as perdas e tudo mais que um ambiente extremamente hostil e intimidador tem para oferecer.

Nesses lugares crescem, na medida do possível, crianças, e vivem mulheres, pais e avós aflitos, tentando sobreviver e atenuar as dificuldades da família, dos amigos e dos vizinhos. Descobrem que é preciso valorizar o pouco que têm, aprendendo a transformá-lo em muito. Nesses momentos e situações históricas, é que se (re)descobre que as coisas são menos importantes que as pessoas e que felicidade é algo muito simples.

Na história narrada, pode-se observar que apesar do caos e de tantas dificuldades, as brincadeiras eram cheias de prazer porque vividas com intensidade e solidariedade e que os presentes trocados eram reveladores do carinho e do amor de quem estava dando, não vinham de lojas, eram construídos.

Não é preciso participar de uma guerra para se aprender como o “pouco” pode ser “muito” e quanto as necessidades podem nos ensinar a ser mais fortes e empáticos com as carências alheias. Quem vive num país como o nosso, onde as diferenças sociais são tão grandes deveria valorizar tudo o que possui (família, amigos, oportunidades, etc)  e ser naturalmente mais generoso e solidário.

Se você tiver oportunidade de ler o livro, não perca. Além de enternecedor nos faz refletir sobre a nossa vida, sobre tudo que desperdiçamos (principalmente momentos e oportunidades) ou que passamos batido, sem dar a devida atenção.

E aqui vai uma conclusão da “Morte”: “...constantemente superestimo e subestimo a raça humana, mas raras vezes simplesmente a estimo”. Que você se transforme numa dessas pessoas que mereça ser estimada pela sua solidariedade e amor àqueles que fazem parte ou passam pela sua vida.



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