Ver o Hino Nacional cantado com orgulho pelos brasileiros, como temos assistido nesses jogos da Copa, é realmente emocionante. O público unido continua cantando com muita emoção junto com os jogadores, apesar da música ser interrompida após algumas estrofes.
Nesses momentos o mundo pode ver um povo orgulhoso de sua Pátria, confiante nos seus talentos, vaidoso da pujança de seu país, ostentando o bom-humor dos otimistas e exibindo dotes de anfitrião de alta categoria. Acolhimento que encanta os estrangeiros.
Mas nem sempre é assim. Passamos o ano inteiro reclamando da nação, tanto das autoridades, do governo, quanto do próprio povo, como se cada um que falasse mal tivesse origem e educação sueca e jamais contribuísse para os desacertos que tanto nos incomodam.
Afinal, quem somos nós?
Administramos e criamos vários eventos, entre eles o Carnaval, que reúne milhares de foliões anônimos que atuam harmonicamente como se fossem artistas muito bem ensaiados. Esbanjamos criatividade e até competência para organizar o Carnaval e outras festas, atraindo turistas para conhecer as belezas, cores, e artes brasileiras. Muitos desses eventos implicam logística urbana, fluxo nos aeroportos e rodoviárias, acomodações, atendimento público, etc . De um modo geral, nos saímos bem na fita. Episódios desagradáveis acontecem em todas as grandes cidades do mundo.
Contudo, entre um evento e outro entramos em “depressão”. Desvalorizamos nossa competência e capacidade de organização. Criticamo-nos duramente, ridicularizando nossa pretensão e falta de civilidade.
Gostamos de nos comparar com países “bem sucedidos”, cujo povo não joga lixo no chão, não tem índice de pobreza e nem de marginalidade como o nosso, e que já despoluiu baías, rios e lagos. Países respeitados pela preservação da sua cultura, pela qualidade de vida de seu povo e pelos direitos já conquistados, ignorando a origem, trajetória e idade dessas sociedades que alcançaram a maturidade.
Que tal um “mea culpa”?
Tendemos a colocar a culpa dos nossos erros e atrasos sociais ao que nos parece fora do nosso controle: corrupção, políticos pouco comprometidos, falta de educação do povo, etc
Mas é preciso fazer um “mea culpa” (expressão latina que significa “minha culpa”, “minha falha”). A maturidade de uma sociedade também passa pela maturidade individual de seus membros. Se não revisarmos o nosso próprio comportamento, reconhecendo o quanto a nossa apatia, individualismo, comodismo e descompromisso com o coletivo têm contribuído para a nossa “incivilidade”, não podemos esperar grandes mudanças no país.
Se temos altos índices de dengue, a responsabilidade não é apenas da inoperância do governo, mas principalmente da falta de comprometimento individual para evitar a proliferação do mosquito; as altas taxas de acidentes fatais no trânsito, têm muito a ver com a nossa desobediência às leis; o lixo deixado nos espaços públicos revela o nosso descompromisso com o coletivo; as depredações a bens públicos e privados por conta de protestos tem um custo social pesado e nada acrescentam às reivindicações; os gatilhos para sonegar energia ou as carteiras falsas de estudante só promovem o aumento da conta de luz e dos ingressos dos pagantes...
Precisamos, sim, cobrar mais seriedade e compromisso dos governantes, mas o exercício da cidadania exige mais do que isso. Exige a participação individual não só no cumprimento das leis como em tudo mais que possa contribuir para o bem-estar coletivo. Aí, sim, a nossa autoestima não vai oscilar tanto...