Convivendo com a Diferença

O uso da burca mexe com a Europa

Islamofobia ou islamização?

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A Bélgica, com cerca de 600 mil muçulmanos, é o primeiro país da União Européia a aprovar a proibição do uso do véu islâmico em locais públicos, sob pena de multa e de prisão dos infratores por até uma semana. Mas a batalha contra a burca se espalha pela Europa. A direita italiana propõe também a interdição do véu integral, sob as penas da lei.

A França caminha na mesma direção. Com estimados cinco milhões de muçulmanos, o país, onde a laicidade é dogma, alega sentir-se incomodado em conviver com mulheres cobertas dos pés à cabeça em nome de Deus ou de uma tradição alheia. Na Dinamarca, desde o início desse ano, escolas, administração pública e empresas privadas são livres para banir ou permitir o véu integral nas suas dependências.

Prós e contras

Como em todo conflito, cada lado tem suas próprias razões. Os defensores da proibição alegam que atrás do véu integral está a submissão da mulher e a islamização dos países, na sua vertente mais radical. Entendem que a burca, antes de ser um símbolo religioso, é um instrumento de opressão do homem sobre a mulher. Motivos de segurança também são invocados, pois a burca esconde completamente a pessoa e provoca atritos quando as autoridades exigem que as mulheres mostrem seus rostos.

Os liberais defendem o direito de liberdade de expressão religiosa e cultural como fundamental a toda democracia. Assim, o uso ou não da burca, por costume ou por expressão de fé, deve ser respeitado. Alegam que é princípio básico do Direito não intervir nas relações do indivíduo com ele mesmo, ou seja, na sua alimentação, no seu modo de pensar, de vestir ou nos hábitos pessoais que não causem danos a outros. Portanto, se as mulheres de uma cultura optam cobrir-se com véus, sua vontade deve ser respeitada.

Assim, a França, por exemplo,  que teve sua liberdade religiosa conquistada com luta e é berço do lema  “liberdade, igualdade e fraternidade”, ao tentar impor proibições dessa natureza entra em conflito com seus próprios princípios.

Os adeptos do islamismo já veem por trás do debate sobre o véu um ataque ao Islã, uma forma de acentuar a discriminação aos imigrantes, especialmente aos muçulmanos, face ao terrorismo xiita.

Quando todos têm razão

De alguma forma todos esses grupos têm razão. O problema é que, durante anos, a marginalização dos imigrantes acentuou seus laços com o país de origem e os costumes nativos. A história teria sido diferente se eles tivessem sido acolhidos e integrados nas sociedades onde foram viver.

Além disso, historicamente as mulheres têm sido tratadas como propriedade do homem. A cultura ocidental já evoluiu para a autonomia feminina, mas até um passado recente, as mulheres eram juridicamente vinculadas ao pai ou ao marido.  As religiões e as convenções sociais serviam de instrumento para consolidar essa dominação. E o controle sobre as roupas da mulher sempre foi um meio de domínio do seu corpo e da sua imagem.

Na cultura oriental, a burca, por exemplo, tira da mulher a identidade visual e a deixa sem uma aparência definida. Assim ela é lembrada de que seu lugar na sociedade é apenas no espaço privado, obedecendo a um homem. Se a sociedade oriental pensa dessa forma, a sociedade ocidental não foi mais estimuladora com essas mulheres, abrindo espaço para elas ou para seus filhos.

Dessa forma, não se pode falar que a burca seja uma opção, já que as meninas são educadas desde cedo a pensar, a agir e a se avaliar dentro do conceito de inferioridade e de dependência. Defender a liberdade religiosa e de pensamento é saudável mas esse não é o caso. O uso da burca não é instituído pelo Alcoorão. Trata-se de um antigo costume tribal que foi incorporado por alguns adeptos da religião islâmica. Aqui, mais uma vez, a religião atua como desculpa para legitimar um sistema de dominação.  Nesse caso, o preceito “liberdade” (religiosa) se opõe ao de “igualdade” (de gêneros).

Contudo, tornar países “zonas livres de burcas” não muda, necessariamente, o tratamento desigual contra as mulheres e arrisca-se a um resultado ainda pior: a proibição pode servir de pretexto para que muitos pais e maridos proíbam suas filhas e mulheres de saírem de casa.



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