Convivendo com a Diferença

Mistura social: a nova ordem urbana

Cidades aprendem com erros cometidos no passado

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Estamos acostumados a ver, nas grandes cidades, os bairros compartilhados por moradores com nível de renda semelhante. Então, a tendência é que, geograficamente, as melhores localizações (ou as que têm melhor infraestrutura) sejam ocupadas pelas classes mais abonadas enquanto que as classes populares, que dependem mais dos serviços públicos, são “empurradas” para fora da cidade, para longe do trabalho e do melhor da urbanização.

Em muitas cidades, para escapar desse isolamento, a população de baixa renda se concentra em favelas, que surgem à revelia das autoridades e são ignoradas pelo Estado até se tornarem graves problemas à ordem e à segurança públicas.

Essas antigas “soluções” urbanas têm as mesmas consequências em quase todos as cidades: são explosivas e geram violência. Em 2005, imagens de coletivos e veículos particulares incendiados em Paris correram o mundo, retratando a revolta dos que se sentiam excluídos em uma cidade que sempre foi enaltecida pela civilidade e humanidade. A origem da revolta foi a segregação de uma parcela da população que sofria com a baixa qualidade de vida das periferias, especialmente nas localidades onde há muitos anos vivem gerações de imigrantes. Nesses locais faltam transportes, acesso a oportunidades, à educação de qualidade e a opções de lazer e de vida digna.

É possível mudar?

Grupos de renomados arquitetos internacionais, pluridisciplinares, foram convocados pelo governo de Paris para discutir uma nova organização urbana para enfrentar os problemas comuns às grandes cidades e melhorar a qualidade de vida de seus moradores.

Em nove meses de trabalho, os arquitetos concluíram que para humanizar a cidade é preciso misturar as diversas classes sociais – o que representa uma revolução no pensamento urbano vigente até então.

O governo da capital francesa, desde 2001, investe em um sistema de habitação social que subsidia diferentes valores ou percentuais de alugueis para  três tipos de renda: 1) pessoas muito desfavorecidas, que vivem graças à ajuda do estado ou da cidade; 2) classes médias baixas, como professores, empregados de escritório, lixeiros da cidade que ganham o salário mínimo ou um pouco mais que isso; 3) casais com crianças que recebem entre 3 a 4 mil euros por mês (esse salário é insuficiente para se morar numa habitação privada em Paris). A prefeitura também acrescenta uma ajuda às mulheres sozinhas com crianças.

O subsídio permite que as pessoas que compõem a base dos serviços da cidade vivam em Paris, como motoristas de ônibus, de metrô, enfermeiros, assistentes de saúde, pessoas que trabalham em creches e escolas. Se todos morassem nas periferias, a 30/40/50 Km da capital, o funcionamento da cidade seria afetado.

Setenta por cento dos parisienses se encaixam no perfil da habitação social. Em alguns casos a prefeitura de Paris comprou prédios inteiros para transformá-los em habitação social e manter, assim, uma população que, sem ajuda, seria rechaçada. Como a demanda é maior que a oferta, o sistema precisa ser muito transparente e é feito por uma comissão composta por eleitos da direita e da esquerda e por associações que se ocupam de problemas de habitação. A cada semana a comissão se reúne para examinar os dossiês e decidir sobre a distribuição de imóveis.

Seguindo a orientação de que Paris deve ser uma cidade mista em todos os sentidos, a prefeitura condicionou que cada construção habitacional, obrigatoriamente, deverá possuir 50% de habitações sociais e o restante ser privado. No centro de Paris, a relação é de 25%. Assim, os construtores privados sabem que para construir em Paris têm que destinar essa cota de apartamentos à habitação social. Um mesmo prédio, por exemplo, com uma mesma fachada, comporta apartamentos muito caros com uma entrada diferente da entrada das unidades menores destinadas à habitação social.

A nova política urbana visa evitar que a cidade tenha zonas muito diferentes de desenvolvimento, disse a vice-prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em entrevista a “O Globo” de 12/06/2011.

A ideia é que pessoas de culturas e níveis de vida variados compartilhem os espaços e os benefícios públicos que devem ser comuns a todos. A mistura social e a possibilidade de uma vida digna são condições indispensáveis para a segurança de qualquer cidade.



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