Convivendo com a Diferença

Índios nas universidades

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O resgate de uma dívida

Uma das maiores dificuldades humanas é aceitar e conviver com as diferenças. Nos versos da música “Sampa”, que fala sobre a cidade de São Paulo, o baiano Caetano Veloso revela a tendência narcisista de todos nós: “Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto / Chamei  de mau gosto o que vi, de mau gosto o  mau gosto / É que Narciso acha feio o que não é espelho”.

Talvez por isto tenhamos levado cerca de meio século para que a Constituição brasileira reconhecesse e resguardasse o direito dos povos indígenas de ter uma educação diferenciada, que preservasse suas tradições, valores e costumes.
 
Mas preservar não se contrapõe a integrar. Tanto a sabedoria e o conhecimento acumulado por esses povos têm importância para nós quanto o conhecimento científico e tecnológico, que conquistamos, é útil para eles. Contudo, a parte difícil  da questão é promover a troca de saberes, sem dissolver culturas e sem padronizar comportamentos.

Integrando pela educação

O preconceito tem sido uma forte razão para que este e outros segmentos da sociedade  vivam à margem da vida brasileira, sem partilhar dos benefícios da educação, que deveriam ser franqueados a todos. 

Pelo levantamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), realizado em 2000, somente cinco mil índios concluíram o ensino médio, numa população indígena estimada em 368 mil – o que  representa apenas 1,36%. Desses alunos, só mil ingressaram no ensino superior, o que significa 0,36% do mesmo total.

Porém esse pouco já começa a fazer diferença, dando voz às aldeias e abrindo novos caminhos para seus povos e fazendo com que eles sejam notados pelo mundo “civilizado”.

O reflexo já se fez sentir nos dados do Censo de 2005, que foram mais animadores. Em relação aos ensinos fundamental e médio, a educação indígena cresceu 17,5% somente nos últimos dois anos. As razões, segundo o MEC, foram não só as taxas de crescimento populacional como a formação de oito mil professores indígenas.

Facilitar o acesso dos índios às universidades é um passo importante para a integração. Por isto, a criação de mecanismos de avaliação mais adequados para o ingresso e a implantação de políticas públicas para sustentar a permanência destes estudantes nas universidades. Os incentivos como bolsas fornecidas pela Funai e outros órgãos, serviços de apoio, oferecimento de cursos de interesse das populações, e tantos outros, são necessários para romper as dificuldades, que são muitas.  Mas,  para combater  o preconceito, só a educação, a convivência e o tempo podem ajudar.

Hoje, alguns estados disponibilizam cotas de acesso à educação pública universitária para as populações indígenas, oferecendo cursos especialmente nas áreas de saúde e educação. A expectativa é de que os índios capacitados retornem às suas aldeias e comunidades, aplicando os conhecimentos para a melhoria da condição de vida dessas populações.  

Para facilitar a própria inclusão na sociedade, os índios universitários estão se articulando em associações com o objetivo de vencer as dificuldades acadêmicas, criando grupos de estudo, aulas de reforço e propostas que ajudem a integrar a aprendizagem urbana com a vida da aldeia. Buscam convênios com fundações , ONGs e centros de pesquisa, que possam receber estagiários indígenas, e agilizam junto aos governos estadual e federal a distribuição de bolsas  e recursos financeiros previstos em lei.

Esta é uma imagem do índio ainda pouco conhecida dos brasileiros. Bem diferente da imagem caricata, que se aprende na escola, do índio colorido, dançando e caçando ou  da imagem do índio preguiçoso, deixada pelo colonizador que não conseguiu escravizá-lo. Se antes, lutaram pela sobrevivência, há tempos lutam pelo direito à terra e à cidadania.

 



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