Convivendo com a Diferença

Preconceito racial

A discriminação que preferimos não ver

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Nós brasileiros gostamos de pensar que somos um povo sem preconceito racial. No entanto, um dos trabalhos de maior visibilidade da pesquisadora e doutora em Educação Eliane Cavalleiro  mostra que os estigmas em relação à cor da pele já se tornam evidentes nos primeiros anos de escolaridade.

Numa pesquisa que retrata e analisa a discriminação racial e o preconceito na Educação Infantil, a autora do livro “Do silêncio do lar ao silêncio escolar”  (Ed. Contexto) constata que “o silêncio que atravessa os conflitos étnicos na sociedade é o mesmo silêncio que sustenta o preconceito e a discriminação no interior da escola”.

Segundo Eliane, o professor reproduz na escola o padrão tradicional de comportamento da sociedade. Embora, no discurso oficial, a escola negue a existência do preconceito racial, este se evidencia no cotidiano, tanto entre as crianças como na relação dos educadores com elas. 

A pesquisa, que envolveu pré-escolas públicas de São Paulo, revela que os estereótipos e preconceitos em relação aos negros são percebidos principalmente por meio das falas das crianças, tanto brancas quanto negras. A cor é referida para desqualificar o outro, e também assumida pela criança negra como fator de menos valia e vergonha.

Com 4 e 5 anos, as crianças negras já demonstram desconforto quando precisam se referir à sua origem racial, pois desde cedo interiorizam ideias preconceituosas que incluem a cor da pele como elemento definidor das qualidades pessoais ”, observa a pesquisadora.

Embora a discriminação racial tenha sua origem na sociedade, a escola reforça na criança branca o entendimento de superioridade étnica, ao mesmo tempo que reforça o sentimento de inferioridade nas crianças negras.

Como o professor reage diante do problema étnico?

O trabalho de pesquisa concluiu que, de um modo geral, os professores têm se mostrado despreparados para lidar com as situações que envolvem preconceito racial: ou se calam diante da humilhação entre as crianças, na tentativa de considerá-las como “naturais” ou “individuais” e, assim, evitam “esticar” o assunto, ou reforçam a discriminação, na maior parte das vezes, através da linguagem não verbal, expressa em ações e atitudes, que nem chegam a ser percebidas por eles próprios.

Dessa maneira, os professores acabam consolidando os valores racistas da sociedade, seja pelo silêncio que “autoriza”  palavras e atitudes discriminatórias entre as crianças, ou pela postura com que o educador se dirige, acolhe ou se refere à criança negra.

Quando a professora, sem intenção discriminatória aparente, auxilia só as meninas brancas a se pentearem ou lembra de beijar na saída apenas crianças brancas, está contribuindo para minar a auto-estima dos alunos afro-descendentes”, exemplifica Eliane. 

Um outro ponto identificado na pesquisa é o desconhecimento do professor em relação às necessidades e especificidades da criança negra. A ignorância desse universo já é um sintoma de desinteresse pela inclusão positiva dessa criança na vida escolar.

Eliane observa que o professor, como indivíduo, está sujeito a absorver os preconceitos sociais, mas, como profissional da educação precisa estar atento e consciente do seu papel de agente transformador.

As pesquisas para compreender a dinâmica das relações multiétnicas no âmbito da Educação representam um avanço no combate ao racismo brasileiro. Seu objetivo é fornecer subsídios para a elaboração de novas práticas educacionais e fazer com que a escola, que, no seu cotidiano, vem contribuindo pouco para a valorização das crianças e da cultura negra, tenha uma participação mais efetiva na mudança das relações multirraciais do país.

OBS: Eliane Cavalleiro é autora também do livro “Racismo e anti-racismo na Educação” – Ed. Selo Negro.



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