Convivendo com a Diferença

A França, os imigrantes e a identidade nacional

De imigrantes a orgulho nacional

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Pelas queixas dos imigrantes em solo francês e pelas ameaças e medidas restritivas, no país, na política de migração dos últimos anos, parece crescer uma espécie de xenofobia dos dois lados. Um deles, ressentido, pela exclusão social e humilhações impostas a descendentes de estrangeiros residentes no país, o outro, incomodado, pelo que chama de invasão de múltiplas culturas que se fecham em seus valores e costumes originais, onerando o Estado e disputando postos de trabalho com os próprios franceses.

Mas nem sempre foi assim, finais felizes mostram que quando há integração os dois lados saem ganhando. Que percentual representam? Difícil de avaliar, já que somente os imigrantes muito bem sucedidos deixam de ser anônimos. Mas, com certeza, nem todo imigrante se arrependeu de ter saído de sua terra para buscar melhores condições na França e muitos reconhecem, apesar das saudades e do amor à pátria natal, que as condições adversas no país estrangeiro ainda foram melhores do que as perseguições, guerras e escassez de tudo que enfrentaram no próprio país.

Por sua vez, a França teve benefícios econômicos e culturais por receber levas de imigrantes, alguns vindos de ex-colônias como a Argélia. Aliás, um grande orgulho nacional é o jogador francês, de origem argelina, Zinedine Zidane. Seus pais migraram para a França na década de sessenta e o atleta, nascido em 1979, fez sucesso internacional com o seu talento desenvolvido em terra francesa.  Esse descendente de imigrantes ajudou a França a levar o caneco pelo melhor futebol do mundo de 1998 e de ser vice-campeã na Copa de 2006.

Um outro exemplo bem sucedido é o da escritora francesa, de origem senegalesa, Marie NDiaye. Nascida na França, em 1967, NDiaye é um dos maiores nomes da literatura francesa contemporânea. Recebeu em 2009 o prestigiado Goncourt (o prêmio literário mais cobiçado do país).  Ela que nunca havia se sentido como “não-francesa”, atualmente preferiu viver em Berlim por causa da posição impiedosa e  dura com os pobres e os imigrantes.

Djibril Bodian de 33 anos, nascido no Senegal, veio para a França quando tinha 6. Ele foi escolhido o melhor padeiro de 2010, contra 162 concorrentes, com a “baguete tradicional” de Paris. Parece pouco  mas não é, considerando que a baguete é um dos símbolos de identidade nacional. O concurso, patrocinado pela prefeitura de Paris, é avaliado não só por um júri de especialistas em gastronomia, como também por celebridades e pessoas comuns, que votam. 

Como parte do prêmio, Bodian vai fornecer por 12 meses todo o pão da residência oficial de Sarkozy, o presidente que lançou um debate sobre identidade nacional. Sarkozy e algumas pessoas estão preocupados que a migração ameace a identidade francesa e o estilo de vida do país. O curioso é que o vencedor do concurso é mais um imigrante que se sente tão francês quanto o pão que produz!

Afinal, o que é identidade nacional?

Um conjunto de elementos identifica um povo e entre eles está o território, a língua, a cultura, os valores, a história, o destino comum... Mas, nenhum desses elementos é estável, todos evoluem ao longo do tempo. Assim, a identidade de um povo se revela no dia-a-dia, com certas influências absorvidas e outras rejeitadas.

As evoluções (ou involuções) de comportamento vêm de caminhos diversos: dos progressos da tecnologia, da ciência, das crises econômicas, da interação cultural com imigrantes ou de comportamentos importados de ídolos da moda, da arte, etc , absorvidos nessa aldeia global que se tornou o mundo.

A questão é se uma nação madura como a França vive uma real ameaça a ponto de discutir a “identidade nacional”. Afinal, toda nação se atualiza e, certamente, a França de amanhã será mais diversificada, sem contudo perder as origens.

No entanto, tudo serve de pretexto para justificar uma perseguição fanática e cruel aos imigrantes. A idéia de se criar uma "imigração escolhida", ou seja, um filtro para acolher estrangeiros a partir de certos critérios, pode impedir a entrada ou o nascimento de franceses como Bodians, Zidanes e NDiayes.  Que serviço de migração poderia imaginar que eles seriam o que são?



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